CARTA DE BRAGA –“Precisam-se Manolos!”- por ANTONIO OLIVEIRA

Manolo é um professor do terceiro ano do ensino primário, algures na Andaluzia!

Falo aqui deste senhor porque, os exercícios que marcou para as férias dos seus alunos já correm mundo, tanto pela originalidade como pelo apelo indirecto à cultura e ao convívio familiar.

Exercícios devidamente apresentados numa folha de papel, seguido cada um de uma pequena bolinha para os alunos irem marcando os trabalhos já cumpridos.

Não são problemas das matemáticas, nem cópias ou outros exercícios de línguas (intragáveis em tempo de férias!), ali substituídos por pequenas coisas que um aluno pode e deve fazer, num dia qualquer, estando ou não em férias.

Da lista constam coisas como ‘ver um amanhecer’, ‘chamar ou mandar uma mensagem a três colegas’, ‘ver um filme em família’, ‘fazer uma limonada’, ‘olhar as estrelas um bom bocado’, ‘cuidar de uma planta’, ‘andar um bocado sem sapatos’, ‘apanhar conchas na praia’, ‘ler dois livros’ e ‘aprender a cozinhar um prato com um adulto’.

Os pais receberam os encargos dos filhos com tanta surpresa e tal agrado, que logo alguém a pôs na net para a divulgar entre amigos.

Uma folha de papel com exercícios, que pode ser alternativa para a massificação dos telemóveis, a mesma que também conduz à massificação do isolamento, sedimentada no imediatismo da net, o que põe em causa a noção do esforço para se conseguir instrução, conhecimento e cultura.

Mas a folha do professor Manolo, também ensina a estar entre a gente, como se pode ver por – ‘dar pelo menos três abraços por dia’, ‘rir até te doerem as bochechas’, ‘dizer te quiero olhando nos olhos’, ‘escrever ou mandar um postal’ e ‘fazer dois novos amigos ou amigas

Poderá ser mesmo mais um caminho para ajudar a formar gente disposta a tentar sempre um ‘atreve-te a saber’ e preferir escolher um pedaço de sabedoria a um pedaço de entretimento, só a base e fundamento da ideologia do consumismo, onde impera ‘quantidade melhor do que qualidade’, aliás o edifício sede do conformismo!

São precisos muitos mais professores Manolos a preparar gente para compreender e interiorizar o que afirma o escritor catalão Mauricio Wiesenthal – ‘a cultura é o lar, o lugar que junta as celebrações familiares, as refeições, as festas, os silêncios, as palavras, as histórias…

E nem é preciso muito! Manolo mostra-o a toda a gente!

António M. Oliveira

Não respeito as normas que o Acordo Ortográfico me quer impor

 

3 Comments

  1. Eu também escrevo à moda de, antes do acordo ortográfico, pois não concordo com o mesmo.
    Relativamente ao professor em causa e ao tipo de trabalho para férias, poderíamos ter uma conversa bastante vasta. Durante o meu trabalho profissional, ainda não tinha aderido a esta forma de comunicar, mas fiz com que os meus alunos, paralelamente aos trabalhos em que tinham de estudar e criar respostas a várias perguntas, sobre a matéria do programa, ou perguntas sobre a mesma, eram levados a outras tarefas mais leves, isto é sem estarem tanto ligadas aos estudos da escola, como fazer as camas, tratar do seu calçado, conversar sobre assuntos do seu interesse com a família, tratar do seu animal, ajudar o irmão mais novo em várias tarefas, pôr a mesa, levantar a mesma, limpar o seu espaço e arrumar devidamente os seus pertences, escrever frases sobre o que gostou e o que lhe custou mais fazer, ser paciente ao ponto de ajudar o avô, a avó, ou pessoas mais necessitadas, fazer recados, escrevendo o que teria ido fazer, jogar com a família…

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