SINAIS DE FOGO – MELO, O MAQUINISTA PRIVATIVO – por Soares Novais

 

Bastou ao Dr. Melo viajar de comboio entre Viana do Castelo e o Porto para clamar contra “um certo preconceito ideológico” que, segundo ele, impede a participação de privados na ferrovia nacional. Foi em plena Estação Porto-Campanhã e pouco passava das 9 horas da última terça-feira. Não admira: o Nuno foi sempre um maquinista privativo ao serviço dos interesses privados…

A seu lado, Pedro Mota Soares, o ex-ministro-lambreta, não abriu a boca, mas foi dizendo que “sim” com a cabeça. Para Melo, Soares, Cristas e outros que tais os problemas da ferrovia nacional acabariam com o fim de tal “preconceito ideológico” e a sua entrega a privados.

“O que está a acontecer com a ferrovia é simplesmente uma vergonha”, disse perante os “pés de microfone” que o escutavam atenta e veneradamente.

O que o Dr. Melo não disse e ninguém lhe lembrou é que Manuel Queiró, ex-secretário-geral do seu partido, presidiu à CP até Julho de 2017 e que foi substituído no cargo por Carlos Nogueira, que integrou a Comissão Política da ex-PaF, dos seus amigos Coelho e Portas.

Aliás, Queiró manteve-se na liderança da empresa mais dezoito meses para além do fim do seu mandato por decisão do ministro PS Pedro Marques, que também escolheu Carlos Nogueira sendo que este logo, logo elogiou o trabalho de Queiró.

Dando de barato que um e outro são bons gestores e doutores em questões de ferrovia, não deixa de ser estranha a opção do ministro da tutela por dois “pontas-de-lança” dos interesses privados na gestão de uma empresa pública. (A não ser, claro está, que o PS da geringonça se mantenha fiel ao PS do bloco central de interesses…)

Acresce que a EMEF, também liderada por Carlos Nogueira, bateu no fundo e deixou de conseguir reparar os comboios da CP. Por falta de mão de obra e de conhecimento. Resultado: os passageiros clamam justamente contra os atrasos e a falta de condições dos comboios. Isto é, está criado o cenário perfeito para avançar com as concessões a privados.

Melo sabe isso. E sabe, também, que não lhe faltarão vozes populares a apoiá-lo. Por isso disse à chegada a Campanhã: «As concessões, como acontece noutras áreas da economia, vêm muitas vezes em benefício do Estado, desde logo quando o Estado não tem dinheiro para fazer os investimentos que são necessários.” E Melo, o maquinista privativo dos interesses privados, apontou a “oferta”dos Estaleiros de Viana como “uma solução.”

Uma solução que garantiu um “negócio da China” à Martifer. Recorde-se:

– A empresa privada recebeu os públicos Estaleiros de Viana do Castelo livre dos seus 609 trabalhadores;

– Os despedimentos custaram 30 milhões de euros ao Estado;

– A Martifer/West Sea só tem uma obrigação: pagar 7,05 milhões em rendas até 2031;

Uma bagatela que permite à privada Martifer/West Sea ocupar e utilizar os equipamentos dos antigos estaleiros públicos. Os amigos do maquinista Nuno gostam destas “concessões”…

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