OS “SALÕES DO VIDRO” DE MURANO – POR ANNA ROSA SCRITTORI – tradução de MANUEL SIMÕES

 

Em Murano, centro prestigioso da arte do vidro, as mais importantes fábricas do sector – Venini, Vistosi, Moretti -, por causa da competição internacional (sobretudo chinesa) tiveram que abrandar ou interromper a produção daqueles objectos artísticos em vidro – vasos, taças, lampadários, esculturas – que exportaram para todo o mundo. Como testemunho da excelência da arte vidreira de Murano resta o belíssimo “Museu do Vidro” com uma colecção de peças únicas e valiosíssimas, forjadas pelos mestres vidreiros a partir da Idade Média.

Uma amostra significativa do Museu de Murano encontra-se agora na ilha de San Giorgio, onde em 2012 foram instaladas “Le Stanze del Vetro” (“Os Salões do Vidro”), um projecto cultural plurianual iniciado pela Fundação Giorgio Cini e por Pentagram Stiftung para o estudo e a valorização da arte vidreira do século XX. A iniciativa nasce com o objectivo específico de trazer o vidro para o centro do debate e da cena artística internacional, mostrando os principais produtores e as mais importantes colecções de vidro no mundo.

Nos “Salões do Vidro” têm-se seguido, nos últimos anos, mostras prestigiosas para documentar as inovações técnicas, a pesquisa sobre a matéria e as formas do vidro, conduzidas por prestigiosos “designers” em colaboração com os mestres vidreiros em Murano e no mundo. Até 6 de Janeiro de 2019, nos salões do vidro está patente a mostra “A vidraria M.V.M. Cappellin e o jovem Carlo Scarpa 1925-1931”.

Trata-se, não só, de uma exposição de belíssimos objectos artísticos em vidro, desenhados pelo jovem Scarpa, mais tarde famoso como arquitecto, mas também da história de uma vidraria qualificada entre as melhores de Murano, que soube produzir objectos de qualidade excepcional até 1931, quando foi obrigada a fechar (a falência aconteceu em 1932). A colaboração entre Vittorio Capellin, empresário-artista, e Carlo Scarpa foi muito significativa: se, no início, Cappellin tinha ideias bem precisas sobre a produção dos objectos de arte, Scarpa conseguiu depois assumir uma certa autonomia, impondo, na projectação, formas geométricas mais de acordo com o gosto do século XX.

Graças às inesgotáveis pesquisas efectuadas nos fornos sobre a matéria do vidro, Scarpa e Cappellin obtiveram resultados excepcionais, muitas vezes inéditos, revisitando antigas técnicas de laboração como a filigrana, o “enredado”, a decoração fenícia. Se nos decénios precedentes a vidraria Cappellin se tinha distinguido pelo estudo da relação entre a cor e a transparência do vidro, com a chegada de Carlo Scarpa a produção orientou-se para o estudo das técnicas do vidro opaco com cores acesas– preto, vermelho, amarelo -, enriquecidas por subtis lâminas em ouro ou em prata.

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