A história da construção das línguas é a dos estados: é a história da burocracia, da administração, da educação, das crenças fixadas, dos símbolos e rituais, das assimilações e a da força. Em resumo e simplificando, poderíamos dizer, é a história das labaçadas: a que larga o mestre, funcionário do Estado, ao miúdo que fala patois; a do mestre ou patrão ao aprendiz de operário, que com o ofício e a destreza necessária aprende a calar; a do crego pároco que aprende a doutrina em língua alheia; a labaçada os moços e moças, na administração, no exército, na policia, na indústria; a que apanham os velhos que vão ao médico ou a solucionar qualquer burocratize na administração.
São as pancadas diárias da Tv, da imprensa, dos mapas, dos indicadores, dos censos, dos bilhetes de identidade, dos formulários, das notarias, da publicidade, dos contratos, das entrevistas de trabalho. E também a das respostas dos empregados nos balcões públicos, nas lojas, nos cafés e restaurantes.
E assim, entre labaçadas, agressões e ofensas gratuitas, passam os anos e nós também imos passando, sem que haja revezamentos, na guerra múltipla: a de resistência contra a laminação do nacionalismo espanhol; na civil normativa, que se prolonga, sem que terminemos de saber as causas; e a interna política entre castros e neles pela primazia entre os clãs.
O resultado destas guerras e confrontos diários é a destruição do tecido social (dos relacionamentos e contatos) e o institucional (o mais grave talvez dos projetos rotos e sem continuidade). E, como resultado, dia a dia a gente vai desaparecendo, sumindo, emigrando, isolando-se ou produzindo nos seus espaços fechados ou reduzidos ao rádio pessoal – todo o mais embarcados na falácia do mérito próprio do capitalismo liberal – das suas redes sociais.

Quando eu era novinho, acreditava na existência do Galeguismo e entendia-o como Irmandade universal dos galegos, como projeto superior do simples nacionalismo, do ativismo linguístico, das línguas, das ideologias, das classes e dos partidos políticos concretos.
Lia na altura muito sobre nacionalismos, nações sem estado, nações: Irlanda, Polónia, Catalunha, mas o modelo era – acho – o sionismo. Murguia, Rosalia, Pondal, Castelao, Lugris Freire, Suárez Picallo, Vitor Casas, Ánxel Casal eram os meus heróis.
Acreditava, sob a influência do galego-cubano, Antón Garcia Antón e do galego-argentino António Perez Prado, na existência de galegos até nove vezes nove da primeira geração da diáspora, e portanto na necessidade de um grande chamado a voltar à Terra.
Acreditava que existia no fundo, para isso, espalhado, um consenso central na ideia de constituir equipas e projetos que se construiam, e que estavam para apanhar, conseguir, resgatar, recuperar documentos, cultura, instituições, energias, forças, recursos humanos, gente galega de toda a parte.
Hoje não acredito mais na sua existência. Há organizações e partidos políticos diversos, com seu trabalho, aparato e militantes; normas e normativas excludentes e coutos fechados; instituições, editoras e espaços acadêmicos nos que se promocionar individualmente; projetos e ideologias irreconciliáveis; uma diáspora desintegrada, uma língua e uma cultura esmorecente; e classes em luta com interesses contrários.
Porém continuo a acreditar que haveria que construir um Galeguismo. Porque a questão continua a ser a capitalização de força social, econômica, cultural e política. De recursos humanos. Todo o mundo é necessário para irmos acumulando massa crítica. Porque apenas uma vez termine a fase de acumulação é que poderia vir outra.
Acumular…