O fotojornalista português, Mario Cruz, registou um rio cheio de lixo nas Filipinas e foi distinguido no concurso World Press Photo pela segunda vez. “Living Among What’s Left Behind”
A foto que ganhou o prémio mostra uma criança que recolhe materiais recicláveis deitada num colchão rodeado por lixo que flutua no rio Pasig, em Manila, nas Filipinas, declarado biologicamente morto na década de 1990. Mário esteve mês na comunidade de Manila,
O rio Pasig é um dos 20 rios mais poluídos do mundo, pois durante várias décadas as comunidades que vivem junto dele foram crescendo sem nunca terem saneamento.
Ir percorrendo as salas e vendo a exposição no Palácio Anjos, em Algés, é levar um murro no estômago. É o inarrável. É o inferno dantesco. Já conhecia o trabalho de Mário Cruz, mas , nesta exposição, pelo tamanho das fotografias e pela sua utilização da cor, para além do preto e branco, elas invadem-nos de tal forma que na mais poderemos esquecer. Na visita guiado como o fotógrafo ele passa-nos a emoção com que viveu aquele mês. Grande Mário Cruz! Fiquei com uma grande admiração, para além da sua arte, como homem cívico e activista.
Vai continuar a mostrar os problemas escondidos e/ou ignorados. Já antes em “Cegueira recente”, abordada um centro de reabilitação, em “Roof”, os sem abrigo e “Taibes, Modern Day Slaves” a escravatura das crianças, conhecidas por talibés, no Senegal e na Guiné-Bissau.
Fiquei a saber que são os próprios habitantes que são a fonte do problema – o lixo é produzido por eles próprios, dado que não há saneamento. É a recolha do próprio lixo que, muitas vezes é fonte de sobrevivência, ao vendê-lo. É nesta própria água , negra e super poluída, que as pessoas se lavam, lavam a roupa, e a bebem.
A vivência nestas situações leva a doenças fatais como as que podem ser vistas em fotos, meninos que passaram a ter nome, com a visita guiada de Mário Cruz. A Angel e o Nelito.
O governo actual tem tentado resolver este problema com equipas de limpeza do rio mas, no dia seguinte está tudo igual. A tentativa de inserir plantas também não tem resultado.
A resolução deste problema implicaria um investimento estatal muito grande, deslocando para outro local estes milhares de pessoas e dando-lhes habitação e forma de sobrevivência.
Mário Cruz espera que o prémio que recebeu com esta imagem ajude a resolver o problema que documentou.