


Cataguases, 29 de outubro de 1983: o marchand Cairu Teles organiza uma grande noite de lançamentos de livros com escritores da terra na GalArt: Lina Tâmega Peixoto (“Entretempo”); Francisco Inácio Peixoto (“Chamada Geral”); Francisco Marcelo Cabral (“Inexílio”); P.J. Ribeiro (“Muralhas Humanas, os Dragões e Visuais”; Ronaldo Werneck (“Selva Selvaggia” e “Pomba Poema”); Joaquim Branco (“Concreções da Fala”); Plínio Filho (“Leções de Vida”); e Márcia Carrano (“Zeroversus”).
Do Rio de Janeiro viriam Luiz Linhares (“Desencontros de Harvey”); Victor Giudice (“Os Banheiros”); Jair Ferreira dos Santos (“A Faca Serena”); Fausto Wolff (“O Acrobata Pede Desculpas e Cai”). Esses acrobatas “estrangeiros” – a exemplo de Francisco Marcelo Cabral, P. J. Ribeiro, Plínio Filho e Francisco Inácio Peixoto (que já havia “saído de cena”) – pediram as devidas desculpas e caíram, quer dizer, não vieram.
Em outubro de 2002, Cairu Teles organizou um número todo do jornal GalArt sobre este prestidigitador aqui, este que vos prestidigita – e me fez uma surpresa: colocou uma foto que eu desconhecia com algumas das presenças daquele lançamento de 1983. Estavam lá e estão aqui agora, impávidos, perfilados da esquerda para a direita: Márcia Carrano, Lina Tâmega Peixoto, Ronaldo Werneck, o cineasta Sylvio Lanna, Joaquim Branco, o professor José Silva Gradim e o próprio Cairu.
Assim que vi a foto “cometi de imediato” um poema-legenda para ela, (in)devidamente inédito até hoje. E que agora publico em homenagem ao meu amigo Cairu Teles, falecido recentemente. Cairu, como Francisco Marcelo Cabral, Luiz Linhares, José Silva Gradim, Victor Giudice e Fausto Wolff, queridos comparsas de vida e literatura que também já caíram do trapézio. E sem rede. Vejam o poema no meu blog, link a seguir.
em sépia e sempre
tanto tempo
e essa ausência
na curva cataguáis
chico peixoto
não mais
nem linhares
nem giudice
enfim
indesculpáveis acrobatas
fausto wolff
trapézio que não veio
nem chico cabral
nem jair ferreira
nem plínio filho
nem
nem p.j.ribeiro
mas nós
esses sós desatados
que, sus!, saltam do pomba
e da foto e da ponte
onde
márcia
lina
mais eu
e sylvio lanna
e quincas
e um branco
sorriso
e gradim
e cairu
– sus!
sós no rio
indesculpáveis acrobatas
caímos
e sobre as águas da mata
andamos
sol que cega e arrebata.
Ronaldo Werneck
Cataguases, dez/2002