A BARRACA – O MAL ENTENDIDO, de ALBERT CAMUS – um espectáculo de MARIA DO CÉU GUERRA, em cena até 18 de DEZEMBRO – QUINTAS e SEXTAS, às 18.30; SÁBADOS, às 21.30; DOMINGOS, às 17 horas

O Mal-Entendido

 

O MAL-ENTENDIDO

Uma das obras máximas do existencialismo/absurdo do teatro francês alcança no momento que vivemos impressionante relevância.

O Mal-Entendido, tragédia moderna de Albert Camus, apresenta-nos uma reflexão sobre o crime e o castigo. De regresso de África onde em 20 anos fez fortuna, um filho regressa à sua terra natal e de surpresa vai visitar a mãe e a irmã que vivem nas montanhas da Boémia onde exploram uma estalagem e onde, quando o hóspede é rico, o assassinam lhe roubam o que traz e o lançam a um rio que desce os Alpes vizinhos. É esse o destino que o espera. A “surpresa” custa-lhe a vida e precipita uma tragédia. A dramaturgia vai permitir ao espectador à maneira da Tragédia Clássica antecipar o desfecho. E saber sempre mais do que cada uma das personagens alimentando o suspense. Cada personagem, por omissão, ambição ou instinto criminal comete uma falha trágica que a levará à morte. Só a mulher de Jan afastada do reencontro pelo marido, acaba por não se inscrever no quadro das personagens trágicas e por fim, isolada nas montanhas que desconhece, sobrevive. No nosso século, particularmente agora nesta época de confinamentos, de crimes familiares frequentes, onde a ganância é muitas vezes a causa de enormes e secretas barbaridades que passam anos despercebidas e impunes, a leitura desta obra de Albert Camus ganha um sentido talvez mais social do que no tempo em que foi escrita. O Mal-Entendido que segundo o próprio autor ilustra “uma situação impossível” perseguindo o objectivo de criar “uma tragédia moderna” em que a moral e o sentido da vida são os principais temas, talvez ganhe outros contornos no nosso tempo e nos aproxime de uma realidade tenebrosa de que não estamos tão longe como desejaríamos.

 

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