Uma sessão dupla dedicada a um dramaturgo único. Com o mesmo elenco de atores e no interior do mesmo dispositivo cenográfico, o encenador João Cardoso promove o encontro e o diálogo entre dois espetáculos recentemente estreados nos palcos do TNSJ. No coração deste resgate encontramos Bernardo Santareno (1920-1980), dramaturgo decisivo do século XX português, “um talento obsessivo e sombrio”, nas palavras de Jorge de Sena. A Promessa (1957) e O Pecado de João Agonia (1961) inscrevem-se num conjunto de peças onde Santareno afirmou uma estratégia de oposição a um sistema opressivo, problematizando aspetos de natureza sexual (a homossexualidade) e religiosa (a culpa, o sacrifício). Estes incitamentos a uma “desobediência aos dogmas” são aqui vividos dentro de apertados círculos comunitários: uma “aldeia de pescadores da costa portuguesa” (A Promessa), um “lugarejo serrano e primitivo” (O Pecado). Lugares iluminados por uma “lua ruim” e batidos por um “vento de mortes”, de onde avistamos o Portugal salazarento.
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