DAVID MOURÃO-FERREIRA (1927-1886), CAMPOS DO ALENTEJO

(1927 – 1996)

 

Áreas que só na alma

encontram suas árias

Mas não virão guitarras

à noite acompanhá-las

Nem o voo das harpas

Nem da neve os fantasmas

Um coro de chaparros

em brados abafados

é sempre o que lhes cabe

é sempre o que lhes basta

Ó crua luz da tarde

logo que a manhã nasce

Por mais que a noite caia

na cal tudo ressalta

E a sombra de um arado

como um A muito amargo

ao qual se limitasse

todo o abecedário

De guerras tantas grades

de fomes tantas pragas

nas lavras destas áreas

os tempos semearam

Abre-me ó terra os braços

como só tu os abres

Até mais graves sabem

tornar-se aqui as aves

 

 

(de “Os Ramos e Os Remos”, 1985)

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