Para quando testes de resistência “stress tests” feitos ao Banco Central Europeu ? – Didier Salavert – 2

(Conclusão)

 

A segunda hipótese – raramente evocada por respeito das instituições – é que estes mesmos dirigentes sejam incompetentes. Depois de tudo isto , nenhum exame de capacidade técnica é pedido[1] para se poder aceder às mais elevadas funções políticas. Ora, muito simplesmente fica-se muitas vezes espantado – aquando de conversações privadas – quanto á ignorância total daqueles a quem estas funções são confiadas e muito mais espantados temos que ficar por que se trata de assuntos que são dos seus respectivos domínios de acção.

 

A terceira hipótese é a da fuga para a frente. É um reflexo humano perante o horror de uma situação próxima querer negar a realidade ou esperar então o milagre. Lembremo-nos do famoso aforismo do Presidente Queuille “ Não há problema que uma ausência de solução não possa resolver[2] encontra aqui a sua aplicação extrema.

 

A quarta hipótese, por último, é a do conluio entre os Estados e o sistema bancário. É muito provável que a história económica do período actual venha a revelar este formidável acordo. A engrenagem deste conluio é relativamente simples:

  1. A existência de estados incapazes de satisfazer as promessas que fizeram (Estado providência);
  2. . Fuga para a frente pela criação monetária;
  3. Sistema bancário a assumir o controlo da criação monetária;
  4. 4. A existência de estados reféns do sistema bancário.

A Autoridade bancária europeia falhou na sua missão de transparência, e agora sabemos que não é o sistema bancário que vai assumir as perdas dos Estados mas os contribuintes (pelo aumento dos impostos) e todos os cidadãos (pela inflação). Os Estados vão salvar os seus cúmplices. Decididamente, não há moral na economia “regulada”[3]. Uma última observação para os que ainda mantêm um pouco de espírito crítico: porque é que não se faz um teste de resistência, um stress teste , ao Banco Central Europeu?

 

Didier Salavert é fundador e porta-voz de Alternative libérale.

 

Didier Salavert, A quand des “stress tests” pour la Banque centrale européenne ? Le Monde, 21.07.11

 


[1] Sublinhe-se que também não podemos confundir Democracia com tecnocracia pura, para onde a frase pode parecer estar a resvalar. Não estamos a querer confundir uma coisa com outra e somos também contra todas as formas de incompetência nos cargos públicos.

[2] Um ditado francês bem equivalente ao nosso: “o que não se pode resolver, resolvido está”.

[3] Pessoalmente subscrevo grande parte deste texto mas aqui devemos sublinhar que só uma lógica neoliberal também é que é capaz de afirmar que estamos numa economia regulada. Em vez de economia regulada, pessoalmente escreveria nesta economia assim regulada .

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