Maquiavel e Astérix – por Carlos Mesquita

 

 

 

(Publicado em O ClariNet em 4-09-2011)

 

Para haver rentrée (voltar à cena, como se diz no teatro, e também na política) é necessário ter-se saído de cena. Se o termo rentrée pode ser usado, é precisamente na esquerda “profissionalizada”, saiu de cena há muito, uns para tratamento das mazelas deixadas pelas últimas eleições, outros para fazer férias como manda o contrato de trabalho. Está bem, são direitos, e com direitos já anda demasiada gente a brincar.

 

O governo, acusado de iletrado por muitos, para além de ter lido o corriqueiro Maquiavel, que qualquer pai violento decorou sem ler, demonstrou conhecer a banda desenhada. A táctica da dupla Passos/Portas foi desenhada por Uderzo e escrita por Goscinny, está num “Astérix”. Os romanos, quando invadiram o agora Reino Unido, encheram-se de levar, até descobrirem o “costume local” da semana-inglesa e do chá das cinco.

 

A partir daí combateram os ingleses todos os dias às cinco horas da tarde e dois dias ao fim-de-semana. E assim ganharam apesar das acusações de falta de fair-play. O governo Passos/Portas aproveitou bem a ausência da maioria dos trabalhadores portugueses em férias. As medidas mais anti-populares foram postas em prática neste período, e se mais não foram foi por falta de tempo. Entretanto, a esquerda esteve pachorrentamente a descansar. Tem tempo. Quem não tem tempo são os que estão a perder tudo.

 

Há passos já dados pelo governo, sem oposição capaz e fraca denuncia, que são irreversíveis para a população em geral e para a economia. A esquerda partidária parece vir com a intenção de aumentar a contestação ao governo, não é o fundamental, essa animosidade popular existe. A oposição às medidas do governo já vem do interior da coligação e do PSD, Ferreira Leite diz da política fiscal que “de justiça tem pouco e de eficácia nada”, e Marques Mendes do ministro das finanças que “parece achar que se relança a economia só com privatizações”.

 

Portanto, mais frases, mais sound bites, é concurso que não divide a esquerda da direita. O que pode ser útil é saber-se o que a esquerda vai fazer para contrariar o avanço neo-liberal, que forças vai conseguir unificar, que acções propõem empreender. Acusações ouvem-se na mercearia, nos blogues, nos transportes, etc. feitos de borla e genuínos.

 

O que se exige da esquerda, paga pelos contribuintes para fazer oposição, (vou continuar a repetir isto) é primeiro de tudo, que diga com quem está disponível para acções unitárias contra a política do governo; com todos? Incluindo o Partido Socialista? Eu, que não sou socialista digo já a minha posição; conto com tudo para derrubar este governo, incluindo a mão de Deus do Maradona.

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