A praxe – III
Foram as novas gerações, mais abertas para a luta pela Liberdade, odiando tudo o que era apressa o e censura, que colocaram essas práticas no caixote do lixo da História.
E é preciso dizer que muitos dos estudantes mais velhos, arreigados às antigas tradições, aderiram com entusiasmo aos novos ventos que agitavam a Academia, sendo disso claro exemplo a posição do Conselho de Veteranos, aderindo ao humor politizado das festas e latadas, e à greve de 62.
Claro que os que lutaram conrra a praxe perceberam rapidamente que essa arma poli¬tica do fascismo poderia ser utilizada contra ele; e, por isso mesmo, para várias manifestações e posições públicas contra o regime, tornava-se obrigatório o uso da capa e batina. Nisto de formalidades, o que serve para o mal, por vezes serve para o bem. Resumindo, é evidente que a praxe caiu devido ao aspecto ridículo, caricato e reac¬cionário dos seus rituais, dos seus conceitos classicistas e aristocratas contra a população civil e contra a marcha do Progresso.
No “saudoso” tempo do fascismo derrotámos essa prárica iníqua, sublinho iníqua e não lhe chamo simplesmente criminosa, porque nunca nesse tempo, apesar de tudo, se fizeram práticas ofensivas do ser humano como hoje se noticiam na imprensa.
O que entristece é pensar como é possível alguém obedecer a esses tiranetes de meia tigela, porque é que não há revolta dos que vêem a humilhação dos colegas, e qual a razão do silêncio cobarde de professores. directores, partidos. e instituições do Estado, perante estas aberrações que esmagam as últimas résteas de cidadania do nosso país.
Estamos à espera de começarem os assassinatos nas escolas, como se passa nessa chamada “pátria da democracia” com o culto da barbárie que são hoje os Estados Unidos da América?
É lamentável que o “Discurso sobre a servidão voluntária” de La Boerie, escrito no século XVI, esteja tão actual sobre a impunidade dos tiranos:
… “Ora o mais espantoso é sabermos que nem sequer é preciso combater esse tira¬no, não é preciso defendermo-nos dele. Ele será destruído no dia em que o país se recuse a servi-lo”.