Um café na Internet
Uma brasileira à volta dos vinte, duas à volta dos cinquenta anos. Ontem, enquanto tomei duche e lavei a roupa, vi-as em frente do espelho, mais tarde, enquanto escrevia, durante quase uma hora, captei estilhaços de conversa, embora muito murmurados, com esse paletozinho, mas a camiseta ficou toda amassada, ponha essa aí com o outro sapato… Comportamento insólito num albergue de caminhantes. A sueca inquire: são mexicanas? Não, são brasileiras. Terão conseguido completar o puzzle das cores, estilos, estado da roupa, porquanto acabam por sair. E, quando regressam, já todos dormem.
Agora há duas horas que ouvem despertadores, sacos a ranger, idas e voltas, portas a abrir e fechar. Começam portanto a levantar-se. Travo uma conversa em forma de agradecimento pelos guardanapos de papel.
– Para onde vão hoje?
– Para Tui.
A cidade de Tui encontra-se a dois quilómetros de Valença. Surpresa minha irreprimível:
– Tui?!
A senhora nota que disse um disparate.
– É… Para Santiago de Compostela!
Santiago situa-se a 116 quilómetros de distância.
– Isso não é hoje…
A mais jovem, talvez mais conhecedora da geografia ou mais consciente do sítio onde dormiu, tosse um pouco. A minha interlocutora corrige.
– Não conheço esse nome, como é a próxima terra aí?
– Rendondela.
– Vamo praí!
Duvido que fossem a pé. Há sempre mais gente nos albergues do que no Caminho, onde ultrapassamos e somos ultrapassados pelos mesmos andarilhos. (O pior é que, quando alguns caminhantes chegam, exaustos, os albergues já se encontram completos.)