UM CAFÉ NA INTERNET – Novas Viagens na Minha Terra – Série II – Capítulo 29 – Em Valença (continuação). Por Manuela Degerine

Um café na Internet 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Uma brasileira à volta dos vinte, duas à volta dos cinquenta anos. Ontem, enquanto tomei duche e lavei a roupa, vi-as em frente do espelho, mais tarde, enquanto escrevia, durante quase uma hora, captei estilhaços de conversa, embora muito murmurados, com esse paletozinho, mas a camiseta ficou toda amassada, ponha essa aí com o outro sapato… Comportamento insólito num albergue de caminhantes. A sueca inquire: são mexicanas? Não, são brasileiras. Terão conseguido completar o puzzle das cores, estilos, estado da roupa, porquanto acabam por sair. E, quando regressam, já todos dormem.

           

              Agora há duas horas que ouvem despertadores, sacos a ranger, idas e voltas, portas a abrir e fechar. Começam portanto a levantar-se. Travo uma conversa em forma de agradecimento pelos guardanapos de papel.


            – Para onde vão hoje?


            – Para Tui.


            A cidade de Tui encontra-se a dois quilómetros de Valença. Surpresa minha irreprimível:


            – Tui?!


            A senhora nota que disse um disparate.


            – É… Para Santiago de Compostela!


            Santiago situa-se a 116 quilómetros de distância.


            – Isso não é hoje…


            A mais jovem, talvez mais conhecedora da geografia ou mais consciente do sítio onde dormiu, tosse um pouco. A minha interlocutora corrige.


            – Não conheço esse nome, como é a próxima terra aí?


            – Rendondela.


            – Vamo praí!

 

          Duvido que fossem a pé. Há sempre mais gente nos albergues do que no Caminho, onde ultrapassamos e somos ultrapassados pelos mesmos andarilhos. (O pior é que, quando alguns caminhantes chegam, exaustos, os albergues já se encontram completos.)

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