(Seleccionado, traduzido e coordenado por Júlio Marques Mota)
1.2 Lejabyabaixo dos 3 por cento
É uma situação muito difícil para os funcionários que lutaram com unhas e dentes. AFP/Jean-Philippe KSIAZEK LYON enviado especial –
O mau calendário para Nicolas Sarkozy. O Presidente da República contava defender o “Made in France” na quinta-feira, 19 de Janeiro na fábrica Sebem Pont-Evêque (Isère) enquanto que na véspera, dia marcado pela cimeira social no palácio Elysee, os trabalhadores da última fábrica do fabricante de lingerie Lejaby em França tiveram conhecimento do encerramento do sítio de Yssingeaux (Haute-Loire). Já deslocalizada a 93%, a produção da empresa será agora totalmente sub-contratada na Tunísia.
O Tribunal do Comércio de Lyon é certo que escolheu, o dia de quarta-feira, 18 de Janeiro para escolher a oferta de retoma “da melhor oferta” no plano social, proposta por Alain Prost – antigo Presidente de La Perla e ex-director geral da Chantelle – e os seus associados por um euro simbólico. Mas sobre os 450 empregados da empresa, só 195 manterão os seus empregos, os outros 255 serão demitidos. Os 93 trabalhadores da cadeia de montagem de Yssingeaux, dos quais 90 são mulheres, serão prioritariamente recontratados no último site deRillieux-la-Pape (Ródano).
Associado com o subcontratante histórico de Lejaby, Isalys, sediado em Sfax (Tunísia), Prostconta investir EUR 7 milhões e reposicionar a marca sobre o topo de gama. Também prometeu 500.000 euros para ajudar os empregados nesta situação . A proposta alternativa em concorrência , considerada menos sólida financeiramente, pelo patrão da PME de lingerie Canat, só manteria 170 postos de trabalho, mas 50 na fábrica da Haute-Loire.
Fatalidade
O golpe é rude paraestes assalariados que lutaram com unhas e dentes. Em vão. A desindustrialização na indústria têxtil em França parece ser uma vez mais uma fatalidade. Desde muito cedo, este sector, e em particular a lingerie, sofre brutalmenteos fortes efeitos da globalização. A roupa interior das marcas francesas é agora quase toda ela completamente subcontratada na Tunísia, Marrocos ou China.
A semana tem sido muito difícil. Na quinta-feira de manhã, os funcionários de Yssingeaux estavam a planear ocupar a fábrica e uma dúzia de trabalhadores falavam mesmo na hipótese de uma greve de fome. Na véspera, cerca de 60 trabalhadores tinha desfilado em Puy-en-Velaydiante a permanência do Presidente da Câmara Laurent Wauquiez, igualmente Ministro do ensino superior.
Na terça-feira, antes da audiência no Tribunal, os trabalhadores tinham apelado ao nível do simbólico. É no Tribunal de Justiça de Voraces nas encostas de Croix-Rousse em Lyon – alto lugar da resistência dos canuts e das insurreições republicanas do século XIX –que eles se reuniram. Para fazer “uma última fotografia de família” nestas altasescadas e expressarem a sua raiva. Vêm em dois autocarros, os empregados de Yssingeaux representaram a maior parte das tropas, dos seus colegas.. A maioria passou uma noite sem dormir, a ocuparem a sua fábrica.
Fazia um frio capaz de rachar as próprias pedras masas trabalhadoras tinham-se defendido, sobre os passeios, com uma máscara branca no rosto. Enormes letras colocadas nas escadas formaram um grande friso “Lejaby, Palmersm’atué) ( Lejaby, Palmers, matou-me”. Com enormes cartazes de raparigas bem bonitas e sexy vestidas com as suas roupas íntimas não chegava para aquecer os corações. Nem os pés gelados dos manifestantes.
Com a sua postura de calma, NicoleMendez (CFDT) tinha gritado ao megafone, no Tribunal de Justiça de Voraces: “” Voraces”, como os fundos de investimento que nos compraram através de Palmers!” Em três anos, tiraram já “as gorduras” baixando o volume de emprego, de 650 para 450.Nicole tinha criticado a “incompetência” de Palmers, por culpa de quem “se realizou uma redução de cerca de metade do volume de negócios, de 80 para 40 milhões de euros” em Lejaby.
Um sentimento de raiva dominava. “O que nos acontece é injusto, é o desprezo,” disse Bernadette, trabalhadora em Yssingeaux a quatro anos de passagem à reforma. “Deixaram-nos poucas possibilidades, é o enterro de Lejaby”. “O futuro não é brilhante,” reafirmava Monique, “com, segundo as ofertas, cerca de 57 a 60% dos empregados despedidos”. A preocupação foi partilhada: “já os nossos filhos não têm nem encontram trabalho, e agora é então a vez dos seus pais….” “Nestaprofissão, com mais de cinquenta anos, já se é um dinossauro,” acrescentou Anne-Marie.
Pesado passivo social
O passivo de Lejaby em termos de caso social é jábem pesado. Entre2002 e 2008, o accionista americano.Warnaco tinha fechado quatro fábricas e despedido 250 trabalhadores, e depois é Palmersque despede, por sua vez em 2010 três outros sítios de produção – Bresse e Bellegarde (Ain) e LeTeil (Ardèche) – e um total adicional de 193 empregos. Estas medidas contribuíram para a derrocada. O pedido de declaração de falência é feito em 27 de Outubro de 2011 e a liquidação é feita a 22 de Dezembro.
“Pode-se perguntar se Palmers não terá usado a cessação de pagamentos para escapar ao pagamento de determinados compromissos, como as somas restantes devidas a título do PSE 2010″, observa Janine (CGT). Para ela, estes ” desperdíciohumano, social e económico ” é imputável às ” escolhas condenáveis de gestão” do accionista que não “financiou a sua filial Lejaby “. Ela queria saber se esta vontade está ligada ao facto de que “o grupo Palmersseja colocado em venda fora da unidade de Lejaby”.
Lamentos, todos, cada um tinha os seus. Para GillesVéron, o perito do gabinete Syndex escolhido pelo Comité central da empresa (EAC), “a apresentação do balanço foi mal preparada, demasiado brutal”. O administrador judicial tinha que procurar encontrar compradores numa enorme precipitação” Véron lamenta sobretudo que um período de tempo tão curto não tenha permitido que se encontrasse uma oferta pelos empregados. Ele teria gostado de ser capaz de iniciar um projecto de recuperação com um fundo de investimento socialmente responsável. Um voto piedoso. O CCE planeia levar Palmers a julgamento, no tribunal do Trabalho ou no Civil para forçar , “a enfrentar as suas responsabilidades”.
Nicole Vulser, LeMonde , 19.01.12