GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA por Clara Castilho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Em conversa de intervalo uma colega que trabalha em escolas secundárias, daquelas que têm programas para jovens com grande insucesso escolar e problemas de outra ordem, comentou que nessa semana,  na mesma escola se tinha sabido da gravidez de duas jovens, uma com 14 e outra de 18. Ambas sem qualquer capacidade para “constituir” família,  para garantir o seu sustento e cuidar de uma criança.

Lembrei outras situações, de meninas de outros meios, lembrei outras mulheres que conheci já mais velhas, devido ao facto de acompanhar os seus filhos. Fico sempre inquieta. Fico sempre pensando no que irá faltar a essas crianças. E pensando no que faltou a estas jovens. E como todos – sociedade – por isso somos responsáveis.

É certo que a gravidez na adolescência atinge várias classes, mas todos os estudos apontam para a sua relação com a pobreza, a baixa escolaridade. No momento em que os métodos contraceptivos estão tão amplamente divulgados, em que há serviços a que os jovens podem recorrer para os obter, pareceria à primeira vista que isto não deveria já
estar a acontecer. Será que se está a ser eficaz?

 

Os riscos para as jovens são os de deixar de estudar, ficar sem uma profissionalização, com menor probabilidade.
de inserção no mercado de trabalho, consequências a nível da saúde física, materno/fetal e psicossocial. Acresce a isto que, se a jovem não teve cuidados para não engravidar, também esteve sujeita a situações de risco de contágio de doenças sexualmente transmitidas.

Do ponto de vista do desenvolvimento psicossocial da própria jovem, este fica comprometido, muitas vezes pela continuidade da dependência de figuras adultas capazes de sustentarem “mais uma boca”. Mas, em certos meios, ser mãe poderá significar a passagem para um patamar de vida desejado por elas próprias.

As jovens podem a nível nacional recorrer a vários serviços:  Associação de Planeamento Familiar (APF); linha Sexualidade, Educação Sexual, Planeamento Familiar; linha SOS Adolescente e em caso de gravidez tem disponíveis as linhas: SOS Grávida/ Informação e Apoio, Solidariedade à Mulher / Gravidez não Desejada e ainda a linha SOS Amamentação.
Existem também associações que acolhem estas jovens mães, quando não apoiadas pela família, ajudando-as a desenvolverem as capacidades para cuidarem dos seus bebés e fornecendo-lhes oportunidades para aumentarem saberes que ajudem na sua autonomização económico social – por ex: a Ajuda de Mãe e a Ajuda de Berço.

Estudos comparativos entre os países da União Europeia, indicavam que Portugal em 1980 tinha uma taxa de gravidez na adolescência (entre os 15 e os 19 anos) de 12%, tendo descido para 4,3% em 2009. Responsáveis (o ginecologista e obstetra Miguel Oliveira da Silva, que preside actualmente ao Conselho Nacional de Ética das Ciências da Vida (CNECV) consideram que, perante os dados obtidos, “Portugal não tem, entre os restantes 26 países da UE, dos piores resultados”, ocupando a oitava posição.  Mas apesar disso, pensemos em números concretos: 12 bebés/dia de mães com idade compreendidas entre os 11 e os 19 anos, 4 mil grávidas adolescentes por ano.

  

Numa pesquisa on-line encontrei o “Jornal de Caldas on-line” com um  artigo, de 2008,  da Enfª Cândida Mineiro e do Enfº Pinto,  que já vai em  115 comentários durante estes anos. Uns mais sérios, outros mais inadequados, mas  que mostra que os jovens andam “navegando” e ao encontrarem oportunidades se pronunciam, questionam e pedem ajuda. Transcrevamos alguns deles:

“Tenho 54 anos engravidei com 13 minha mãe me espancou , tive que morar com a megera da sogra.”

“Aos 18 engravidei ……….ja tinha 3meses e meio kuando descobri; os meus pais obrigaram-me a abortar violentamente até hoje sofro com isso; porque preferia sofrer com o meu filho”.

“Tenho 15 anos e fiquei grávida com 14 anos, minha quase me matou tive que morar com meu namorado na casa dele e com a mãe dele…”

“Eu acho que todas as raparigas de hoje , devem pensar muito bem na vida ! Ele é um filho e não um boneco novo !! Se querem ter relações sexuais , tenham mas usem preservativo e tomem a pílula ! Calma … Meninas , há tempo para tudo .. Não apressem as coisas que não são para a vossa idade !! Juízo.”

“olá….eu sou a avieira e tenho 14anos xtou gravida de 2 meses meu namorado contraiu o viros do HIV/SIDA o que faço pelo amor de deus…..ja fiz o exame eu tbm contrai….ajudem pf.e que deus tenha compaixão de nós.”

“Se acham q sao suficientemen.t grandes pa fazer sexo sejam grandinhas  tambem pa saberem uq e um preservativo .. evitaria q isso acontecesse , eu perdi a virgindade ao 13 anos e tenho neste momento 17 e nunca engravidei .. pois n penso so em mim e penso no desgosto q a minha familia iria ter .. mas isto e so minha opiniao fiqem xD”

Ter informação não chega. Precisam de  quem os ajude a reflectir nos seus sentimentos e que os actos têm consequências. Por vezes quase fatais.

 

 

Leave a Reply