Dia da Apple, dia da Globalização – Em forma de conclusão.

Selecção, tradução e nota de leitura por Júlio Marques Mota

 

Nota de leitura

 

O blog A Viagem dos Argonautas publicou em Março último uma série de textos numa edição especial dedicada à Apple, dedicada à globalização, com o título Dia da Apple, dia da Globalização, série esta  dedicada à exploração quase que selvagem a que os trabalhadores no espaço global estão a ser sujeitos.


Dada a forte denúncia feita  pelo New York Times num trabalho  de grande qualidade nessa série publicado a Apple sentiu-se obrigada a contratar uma empresa para uma auditoria às condições de trabalho na Apple. A trabalhar sob encomenda da Apple, o resultado desta auditoria está agora disponível e é a este relatório que se refere o artigo que se segue, de Harold Thibault.


A salientar aqui apenas uma pequena referência, um pequeno  detalhe. Neste mesmo artigo de Thibault refere-se o trabalho de uma ONG, China Labour Bulletin. Aos leitores que têm acompanhado a publicação das nossas diversas séries sobre  Globalização e Desindustrialização, informamos que na quarta série, capítulo IV, os trabalhos de China Labour Bulletin serão uma  das nossas referências. 

 

Coimbra, 1 de Abril de 2012.

 

Júlio Marques Mota

 

 

Apple e Foxconn prometem um pouco mais de social

 

Harold Thibault,  Le Monde, 30 de Março de 2012

 

 

 

A direcção da Apple, anunciou na quinta-feira, 29 de Março, que vai trabalhar com o seu principal subcontratante, a empresa chinesa Foxconn , para que se melhorem  as condições de trabalho e os salários nas fábricas em que a Foxconn fabrica os seus produtos Apple.


Os dois grupos têm, neste caso, “aceitado (as) recomendações” de Fair Labor Association, segundo Auret van Heerden, o Director-geral da ONG, que publicou neste mesmo dia, os resultados de uma auditoria sobre as condições de trabalho dos trabalhadores na Foxconn,  em três das suas fábricas na China.


A auditoria – e para a qual 35.000 trabalhadores foram questionados – considera que é comum haver horas extras para além do limite legal das 36 horas semanais, cumuladas à semana de 40 horas, nas linhas de montagem cadeias dos iPhone e dos iPad.


Os trabalhadores da Foxconn têm trabalhado em média 60 horas por semana durante os períodos de pico de produção. E houve períodos durante os quais trabalharam sete dias de enfiada sem a separação de 24 horas e este corte é contudo regulamentar entre cada duas semanas.

 

 

A auditoria revelou que 14% dos trabalhadores não recebem o pagamento devido pelas horas extras, sendo estas reduzidas por fracções de 30 minutos e não sendo pagas sistematicamente quando são realizadas. E 64% dos trabalhadores consideram que as suas remunerações não cobrem as suas necessidades básicas.

 

Outra irregularidade consiste em declarar os acidentes de trabalho apenas quando estes implicam uma paragem das linhas de montagem.

 

 

A Apple tinha contratado esta auditoria depois da publicação pelo New York Times de um inquérito, referenciando a relação de causa e efeito entre a pressão para a redução de custos aplicada pela Apple aos seus fornecedores e o mal-estar sentido pelos trabalhadores destas empresas.

 

 

Múltiplas greves

 

 

Para o futuro, Foxconn assume o compromisso de declarar todos os acidentes de trabalho desde que haja um ferido que seja, desde que haja um acidente. O subcontratante da Apple também promete reduzir o número de horas de trabalho para um valor inferior a 49 horas semanais, incluído neste valor as horas extraordinárias, o limite legal, o que exigirá novos empregos, novos contratos.

 

 

Os resultados da auditoria foram publicados nesta quinta-feira, enquanto o director geral da Apple, Tim Cook, estava em visita à China. O sucessor de Steve Jobs foi recebido pelo actual vice-primeiro-ministro da China, Li Keqiang, a quem estará prometido o cargo de primeiro-ministro. Este insistiu na necessidade das empresas darem mais atenção aos seus trabalhadores. Um aviso, enquanto as greves se multiplicam nas fábricas chineses desde há dois anos.

 

 

Para melhorar a situação destes últimos, a melhor coisa a fazer é estabelecer mecanismos através dos quais estes trabalhadores possam ser colectivamente ouvidos nas suas queixas através do diálogo com o juiz Geoffrey Crothall, o porta-voz da ONG China Labour Bulletin.

 

 

Harold Thibault

 

 

Trabalhadores preocupados com possíveis reduções dos seus salários

 

 

Uma parte dos trabalhadores da Foxconn parecem pouco convencidos de que a limitação das horas extraordinárias não venha a ser acompanhada de uma redução do seu salário, Vários trabalhadores entrevistados pela Agência de Notícias Reuters mostraram receios de que os seus salários venham a ser sujeitos a uma redução, uma vez que as horas extraordinárias representam um complemento importante para o seu salário.

 

Harold Thibault, Apple et Foxconn promettent un peu plus de social, Le Monde.

 

Leave a Reply