Globalização e Desindustrialização – 4ª Série. Capitulo 2. Comércio e Concorrência Internacional: algumas questões.

2.8  Repensar a Teoria do Comércio Internacional, repensar a Política Comercial, por Thomas I. Palley – II

 

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

 

(Continuação)

 

As ineficiências pioram se os países têm diferentes curvas de custo. As diferenças de custos podem existir devido à existência de diferenças na tecnologia ou nas economias de escala externas decorrentes dos efeitos de aglomeração. Os efeitos positivos da aglomeração surgem quando a eficiência de empresas individuais é desenvolvida, é aumentada, e os custos  descem  quando toda a indústria se expande. Neste caso, não só pode haver uma má distribuição global de produção (Gomory-Baumol ineficiência), mas a produção também pode ser mal distribuída pelos países com tecnologia inferior e mais elevados custos. Uma má afectação pode acontecer se um país de alto custo, ineficiente, é o primeiro a mover-se para baixo na sua curva de custo médio, tornando-se o produtor de baixo custo global e adquirindo uma vantagem de “decisão” de custos. Mesmo que outros países sejam potencialmente mais eficientes, eles são bloqueados quando um país ganhou uma vantagem por se ter iniciado primeiro a mover-se para baixo na sua curva de custo médio curve (2).

 

 

 

 

Esta situação é ilustrada na Figura 1, que mostra as curvas de custo médio para a indústria k nos países em 1 e 2. O custo médio para a indústria k no país 1 encontra-se acima da curva de custo do país 2.

 

 

No entanto, um país 1 pode tornar-se o produtor global se este obtém uma vantagem à partida e se é o primeiro a descer na sua curva de custo médio, ganhando assim uma vantagem competitiva e bloqueando o novo operador (país 2).

 

 

Em suma, quando as curvas de custos diferem entre países, a produção mundial pode ser reduzida por duas razões: (1) o país com o menor custo de produção tecnológico não pode produzir, e (2) a produção pode ser mal distribuída globalmente (alguns países produzem muitos tipos de bens enquanto outros produzem muito poucos), daí podendo resultar uma exploração ineficiente das economias de escala.

 

 

Além de darem origem a estruturas de produção globais potencialmente mais ineficientes, Gomory e Baumol mostram que os rendimentos de escala crescentes (IRTS) podem dar origem a conflitos comerciais pois os rendimentos dos dois países estão a convergir. Este argumento é ilustrado pela Figura 2.

 

 

 

Assumindo-se que os dois países economicamente idênticos têm tecnologias e procuras idênticas, o rendimento global é maximizado quando os dois países têm o mesmo número de indústrias e em que cada país produz metade da produção mundial. No entanto, o rendimento de cada país é maximizado quando o país tem mais da metade das indústrias. Isto significa que uma zona de conflito existe quando o reafectar da produção entre países aumenta o rendimento global, mas um país beneficia à custa do outro.

 

 

A lógica económica para este tipo de situações  é a seguinte. Considere um equilíbrio inicial, onde a maioria das indústrias estão localizadas num só país. Neste caso, a escala de produção é muito baixa no país onde a maioria das indústrias estão localizados e muito alta em outros países onde existem poucas indústrias. A realocação de indústrias entre os países pode aumentar o rendimento mundial, aumentando a escala de produção. A produção aumenta nas indústrias que permanecem nos vários países porque os recursos são transferidos para elas e também aumenta a produção nas indústrias transferidas, que tiveram acesso limitado a recursos antes de realocação, mas agora têm expandido o acesso a recursos noutros países. Todos os países beneficiam do efeito de escala. Além disso, no entanto, existem os efeitos ditos de termos de troca, uma vez que os preços caiem na produção dos bens produzidos pelas indústrias em expansão. Isto significa que os ganhos marginais para o país que recebeu as novas indústrias excedem os ganhos para o país que está a perder indústrias. À medida que os rendimentos dos dois países convergem, os rendimentos de escala derivados de maiores realocações decrescem e o efeito dos termos de troca sobre o comércio pode superá-los (3). Nesta fase, mais transferências de indústrias baixam o rendimento do país que está a perder indústrias, embora as transferências aumentem o rendimento mundial e o rendimento dos outros países (4).

 

 

A moral da história é então a dois níveis. Primeiro, os países não beneficiam da situação de autarcia (auto-suficiência), porque eles perdem o benefício das economias de escala. Segundo, os países ainda querem manter uma parte mais que proporcional da indústria mas este objectivo restringe a produção global, leva ao aumento dos preços de bens . Uma vez que o país também exporta estes bens, este objectivo confere um benefício pela melhoria dos termos de troca que acresce o rendimento. A implicação é que a perda de muita da sua base industrial é má para a economia de um país, embora possa ser boa para a economia global. Do mesmo modo, um país que tenha desproporcionalmente poucas indústrias tem interesse em se envolver em política estratégica para atrair mais indústrias, ganhando assim rendimentos de escala e melhoria dos termos de troca.

 

 

(Continua na próxima terça-feira)

 

 

 

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