
VAMOS AO CINEMA
A chamada “teoria da conspiração” tem rendido muitos milhões de dólares para as indústrias da informação e do entertenimento. Nos Estados Unidos não existem instituições sagradas – a CIA e o FBI, são em filmes, séries televisivas ou em romances, frequentemente envolvidas em tramas sinistras. Hollywood produz anualmente dezenas de filmes seguindo essa receita.
Nesta ânsia de efabular a perversão, nem o Presidente escapa. Absolute Power(Poder Absoluto , 1997), realizado por Clint Eastwood, em que o criminoso é precisamente o presidente dos Estados Unidos, interpretado por Gene Hackman.
Em All the President’s Men (Os Homens do Presidente) realizado por Alan J. Pakula em 1976 faz-se a desmontagem do escândalo de Watergate. Dois jornalistas do Washington Post, fazem um trabalho de investigação – Robert Woodward (interpretado por Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman),, descobrindo uma rede de espionagem e lavagem de dinheiro, o que acaba por levar à renúncia do presidente Richard Nixon, dado o seu envolvimento no escândalo.
John Grisham, o sexto escritor mais lido nos Estados Unidos. Formado em Direito, escolheu a famosa teoria para tema dos seus livros, denunciando as fragilidades do sistema judiciário americano e o papel deletério de muitas das grandes firmas de advogados. Um dos seus maiores êxitos é precisamente The Firm, 1991 (A Firma), passado ao cinema e protagonizado por Tom Cruise..
E vou apenas referir mais um caso – o da realizadora Kathryn Bigelow que preparava um filme : Kill Bin Laden (Matar Bin Laden, em tradução literal) – baseado na tentativa falhada de assassinar o líder da Al Qaeda. Surpreendida pela morte de Bin Laden, o filme esteve para não se fazer, optando-se finalmente por manter a história, acrescentando este desfecho.
Mas será que esta liberdade de abordar temas delicados é uma vantagem para o sistema democrático? Acho que não – tem pelo contrário um efeito perverso: Quando as coisas acontecem fora dos ecrãs ou das páginas dos romances de aeroporto, em Guantánamo, no Iraque, no Paquistão, ou no Afeganistão, a maioria dos cidadãos norte-americanos acha normal. Em suma, tudo o que de negativo existe na sociedade norte-americana pode ser denunciado e criticado – do racismo à tortura. As maiores atrocidades e as mais sinistras conspirações são antecipadas. O efeito é perverso. Uma espécie de vacina contra os sentimentos humanos. Se os Estados Unidos decidirem lançar bombas nucleares sobre o Irão, muitos americanos (talvez a maioria) acharão normal – encolherão os ombros e dirão – já vi este filme .