por Rui Oliveira
Caro leitor : Também esta não é uma semana muito fecunda, como verá.
Na Segunda-feira 9 de Abril, o ciclo Músicas do Mundo traz ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, às 21h, as vozes do iraniano Alireza Ghorbani e da tunisina Dorsaf Hamdani num espectáculo que intitularam Ivresses (em torno da poesia de Omar Khayyam) com seis temas A sagração de Khayyam, Embriaguez, A Existência, Apaixonados, Inebriamento e O Escanção.
Diz o programa : “ Omar Khayyam é um poeta persa do séc. XI que conquistou o mundo declinando magistralmente a metáfora poética de Ivresse (embriaguez/ intoxicação). Os seus poemas inflamam o nosso imaginário numa espantosa fusão do canto Árabe e Persa. Acompanhadas de músicos de grande sensibilidade e virtuosismo, as vozes de Dorsaf Hamdani e Alireza Ghorbani propõem uma leitura singular e refinada, com composições originais e de grande actualidade, inspirada em músicas e poesias tradicionais do Oriente persa e árabe.”
Apoiam-nos os seguintes instrumentistas : Ali Ghamsary tar, divan, Saman Samimi kamanche, tanbur, Hussein Zahawy daf, darbouka, dayera, Keyvan Chemirani zarb, udu, bendir e Sofiane Negra oud.
Eis o primeiro tema Le sacre de Khayyam numa realização de Samuel Thiebaut em Fevereiro de 2011 (no Alhambra de Paris). Apreciem-no que é extenso e belo :
Na Terça-feira 10 de Abril, o Concerto Antena 2 realiza-se na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves (ao Saldanha),às 19h, com um recital de cravo por Cristiano Holtz no qual será feita a apresentação do seu novo CD, ”J.S.Bach – Rare Works for Harpsichord” que contém, além de diversas fantasias, tocatas, prelúdios, fugas e sonata (ver capa junto), duas estreias mundiais − a Fantasia e Fuga BWV 905 em Ré bemol e a Fantasia BWV 920 em Sol bemol. A entrada é livre.
para pressentir este CD clique em http://www.youtube.com/watch?v=QC5lR1pmP1Y
A gravação do disco fora efectuada nos dias 21, 22 e 23 de Setembro de 2011, na Igreja do Cemitério dos Ingleses, em Lisboa, usando Cristiano Holtz um cravo M. Kramer, Rosengarten (a partir de um original G. Silbermann, Saxónia de c. 1740).
Relembremos que o cravista, nascido no Brasil, iniciou os seus estudos de cravo aos 12 anos com Pedro Persone, aos 15 anos, a convite de Jacques Ogg, foi viver para a Holanda onde permaneceu durante dez anos, estudando sobretudo com Gustav Leonhardt, a sua maior influência, tendo ainda trabalhado em privado com Pierre Hantaï e Marco Mencoboni .
Em 1998 veio para Portugal, a convite do Instituto Gregoriano de Lisboa onde é, desde essa altura, professor de cravo.
Pode ter-se um vislumbre (que não dispensa a ida ao concerto) da sua qualidade, elogiada por Leonhardt, ouvindo este Prelúdio de Johann Sebastian Bach :
Na Quarta-feira 11 de Abril, os polos musicais são relativamente opostos.
Por um lado, o Institut Français de Portugal traz ao seu Auditório (em co-produção com a Antena 2), às 19h, a pianista francesa Claude Bessmann, “uma intérprete apaixonada de Ravel e Liszt”, actualmente professora da École Nationale de Musique de Paris, e que obtivera o 1º prémio na classe de Vlado Perlemuter do Conservatório de Paris, a Medalha de Ouro no concurso internacional de Vercelli (Itália), sendo também laureada no Concurso Internacional Georges Enesco, em Bucareste (Roménia). O acesso ao concerto é pago, embora a 5 €.
No programa do concerto estão :
Maurice Ravel Pavane pour une infante defunte (1899)
Maurice Ravel Sonatine (1905)
Maurice Ravel Tombeau de Couperin (extraits) (1918)
Paul Dukas Scherzo de la Sonate (1901)
Franz Liszt Sonate en si mineur (1854)
Por outro,e talvez (por contraste e curiosidade justificada) aconselhasse esta opção, ao bar Vinyl Lado B, vem o guitarrista, cantor e compositor David Philips.
Trata-se dum músico natural do Reino Unido mas a residir em Barcelona, onde grava (tiveram particular sucesso os registos captados no alto do seu estúdio The Rooftop Recordings, 2011). O seu estilo muito versátil, misto de blues, jazz, soul, rock e pop, foi formado numa longa colaboração com nomes como Brian Jackson , George Braith, Charlie Wood, Alvin Youngblood Hart, Hook Herrera e Geoff Young.
Como amostra promotora da sua audição ao vivo, escute-se este “What Am I ?” :
Na Quinta-feira 12 de Abril, há a apresentação no Grande Auditório da Culturgest, às 21h30, do novo CD Motor do guitarrista de jazz André Fernandes, gravado em finais de 2011 com a presença de André Fernandes guitarra, Bernardo Sassetti piano/rhodes, Demian Cabaud contrabaixo, Marcos Cavaleiro bateria, Zé Pedro Coelho saxofones e Susana Santos Silva trompete, um conjunto a que o guitarrista chama uma “banda”, coisa rara no universo do Jazz, e que lhe permite ter uma plataforma ideal para concretizar a sua nova música. Este sexto álbum resulta de uma já longa actividade como líder e de colaborações com músicos como Perico Sambeat, Lee Konitz, Mário Laginha, Jorge Rossy, OJM, Jeff Ballard, Chris Potter e inúmeros outros.
Neste espectáculo estarão quase todos os participantes no CD, sendo apenas Sassetti substituído por Óscar Marcelino da Graça.
Um relance do novo trabalho de André Fernandes pode ter-se ouvindo o tema Flying Girl (nele incluido) da forma como foi tocado no passado 6 de Abril no Jimmy Glass de Valência (Espanha) com um quinteto onde, além de Óscar Graça, Demian Cabaud e Marcos Cavaleiro, estava presente Jesús Santandreu com o seu saxofone tenor no lugar de Zé Pedro Coelho :
Na Sexta-feira 13 de Abril, conclui-se a troca de visitas Gulbenkian/São Carlos (como referiremos nas Cordas sobresselentes de ontem) com a ida ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, às 21h, da Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro de São Carlos, tendo como maestro Martin André, que convidou o pianista Artur Pizarro para participar num programa inteiramente composto por obras de compositores russos :
Dmitri Chostakovitch The Gadfly: Suite, op. 97a (nos 1, 2, 3, 8, 10, 11)
Sergei Rachmaninov Concerto para Piano e Orquestra nº 1, op. 1
Piotr Ilitch Tchaikovsky Sinfonia nº 1, op. 13, Sonhos de Inverno
As Notas divulgadas com o programa lembram aspectos particulares da composição de algumas das obras, nomeadamente as dos compositores russos que mais tarde se estabeleceram nos EUA, como o relativo insucesso do Concerto de Rachmaninov na sua estreia em Nova Iorque (e como isso afectou o seu pianista) ou ainda o peso que a “sala de cinema mudo” da sua juventude influenciou Chostakovitch nas múltiplas bandas sonoras que escreveu até The Gadfly em 1955.
Por esta obra ser eventualmente menos conhecida (e não haver qualquer registo de orquestras portuguesas), eis como a interpreta a Orquestra Sinfónica Nacional da Ucrânia (Nota: os vídeos sucedem-se automaticamente reproduzindo a obra integral nos seus doze temas num total de cerca de 41 minutos) :
No Sábado 14 de Abril, vem mais uma vez ao Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, às 19h, o “génio enigmático” – como o seu Serviço de Música designa o notável (com aura de recluso) pianista romeno Radu Lupu para um concerto a solo.
Numa das suas raras entrevistas, Lupu resumiu assim a sua forma de fazer música: “Cada um conta uma história diferente, e essa história deve ser contada de modo convincente e espontâneo. Caso contrário, não tem valor”. É neste clima que iremos ouvi-lo tocar de :
Franz Schubert Improvisos op. 142
César Franck Prelúdio, Coral e Fuga
Franz Schubert Sonata nº 18, em Lá menor, D.845
Não havendo quase nenhum registo fílmico da actuação de Radu Lupu, ouça-se uma gravação integral duma das peças do concerto, a Sonata nº 18 de Schubert :
Quem pretenda “ver” o pianista romeno tocando o piano (embora num Concerto, o nº 23 de W.A.Mozart com a Filarmónica de Viena) pode clicar, para a audição integral, em http://www.youtube.com/watch?v=w9y5Zko7XIs, http://www.youtube.com/watch?v=Q1cZPsqZlaI e http://www.youtube.com/watch?v=qvT220m-pkg&feature=relmfu .
No Domingo 15 de Abril quase só mais um evento gulbenkiano pode suscitar o interesse cultural dos leitores, se exceptuarmos aqueles sem data única. Trata-se da conclusão do ciclo Wagner + com que a Fundação antecipa o bicentenário do nascimento do músico alemão com dois concertos neste Domingo e Segunda com a Gustav Mahler Jugendorchester dirigida por David Afkham a que se junta, para as peças líricas, a soprano sueca Iréne Theorin que vem a Lisboa, como a própria diz, “emprestar a voz ao compositor que a acompanha ininterruptamente desde os primórdios da carreira… Nunca estive sem ele, não sei o que isso é. Estudo a sua música desde o início da minha vida profissional, fiz todos os seus papéis mais importantes…”
Neste concerto ouviremos :
Richard Wagner Tristão e Isolda: Prelúdio
Anton Webern Seis peças para Orquestra, op. 6 (rev. de 1928)
Richard Wagner Tristão e Isolda: Morte de Isolda
Bernd Alois Zimmermann Photoptosis
Alexander Scriabin Le Poème de l’extase, op. 54
Poderemos antecipar a interpretação da soprano Iréne Theorin na ária da ópera de Wagner Tristão e Isolda através deste excerto do final do 1º acto, contracenando com Robert Dean Smith :
Caro leitor : As escassas Cordas sobresselentes destes dias seguem dentro de uma hora.