O concurso para jovens compositores, tem por objectivo estimular a criação da música dramática em língua portuguesa, proporcionando aos compositores selecionados a apresentação de um trabalho em condições de excelência, no Teatro Nacional de São Carlos e da interpretação das suas obras por cantores de qualidade reconhecida e uma orquestra de câmara constituída por elementos da orquestra Sinfónica Portuguesa A 1ª edição teve como tema “Amor e Morte”, foi apresentada nos dias 2 e 3 de Março e contou com a participação dos compositores Sofia Sousa Rocha, Luís Soldado, Edward Luiz Ayres d’Abreu e Tiago Cabrita.
Do que ouvi, preferi claramente a peça de Luís Soldado – Fado Olissiponense – com libreto de Rui ZinK.
Porque esta é uma área que me é estranha, porque me intriga a forma como se poderão interligar a música e as palavras, irei retirar parte do texto do catálogo, escrito por Rui Zink:
“Salvo erro, esta é a 5ª vez que trabalho para o compositor Luís Soldado. A ópera é dele. Embora seja uma arte súmula, cooperativa e aspirante à Arte Total multimédia, a música é sempre o princípio e o fim. Há excelentes óperas com maus libretos. Mas, por melhor que um libreto seja, não redime a música caso ela falhe. Isto assente, estou ali como um bom mecânico, para ajudar o Fittipaldi a fittipaldar melhor. Resolvo problemas, c’est tout. Para quantos cantores? O que está o Luís pensar fazer? Qual a duração, desta vez? Ao contrário do que se pensa, não é necessariamente mais fácil fazer uma ópera curta que uma com “mais tamanho” de ópera. Não para o libertista, pelo menos. Temos que condensar a informação e as nuances narrativas. Que história se pode contar quando os minutos estão contados? Quanto mais espaço, mais tempo teremos para as mudanças de orientação. Depois o compositor diz que tipo de encontro quer – aqui um dueto, ali uma ária, ali… E nós temos de obedecer (eu pelo menos não me importo) e manobrar a história em função do que é musicalmente necessário. O mesmo para a medida do verso ou o número, as estrofes, etc. O Luis diz “Aqui precisava disto” e eu vejo como satisfazê-lo. Ao contrário do que se possa pensar é extremamente relaxante, porque tem muito a ver com o modo como me aproximo ao contar histórias”.
E posso dizer-vos que o conjunto música-história se entrelaçava na perfeição, que consegui perceber todas as palavras (o que nem sempre acontece…) e que me diverti imenso. Continuando com o Rui: “Fado Olissiponense é uma – mais uma – variante da Odisseia de Homero, que alguém descreveu como a história da melhor história do homem bêbado que volta a casa e conta uma história à esposa. Não é nem mais nem menos que isso. Por alguma razão os velhos mitos e arquétipos continuam a funcionar. Eu sei uma delas: os vivos de hoje têm uma estúpida e quase ternurenta tendência para repetirem os mesmos erros de sempre e, destarte, legitimar o recurso dos libertistas às velhas fórmulas. Eu e os meus colegas do Clube dos Poetas Preguiçosos agradecemos”. A interpretação esteve a cargo de João Merino, Sara Braga Simões, Maria Luísa de Freitas e Marco Alves dos Santos.