
VAMOS AO CINEMA
“La rafle” (“A Rusga”) é um filme realizado por Roselyne Bosch. A acção decorre em 1942 e conta uma história que até agora foi tabu – a rusga do Velódromo de Inverno de Paris, onde foram concentrados mais de 13 mil judeus, mulheres e crianças na sua maioria. Às quatro horas da madrugada de 16 de Julho de 1942, teve início a operação. Os polícias franceses receberam ordens para ir de casa em casa actuando «com a máxima rapidez, sem palavras inúteis e não fazendo qualquer comentário». Os solteiros foram transferidos para Drancy, a norte de Paris, escala prévia para a deportação para os campos de concentração alemães. As famílias ficaram no Velódromo, situado junto da Torre Eiffel.
Le monde entier saura le pourquoi du mensonge
No meio de um ruído infernal de choro e gritos, mais de oito mil homens, mulheres e crianças, sobreviveram sem água e sem comida durante cinco dias. Alguns conseguiram fugir. Os outros foram levados para campos de detenção e daí para Auschwitz. Do Velódromo, demolido em 1959, só resta uma pequena placa evocadora do que aconteceu naquele Verão de 1942. Como se quisessem apagar a memória.
“La rafle”, com um elenco onde se destacam Jean Reno e Mélanie Laurent, permite lembrar essa página negra da história recente de França e recuperar a memória perdida de um episódio histórico escamoteado durante anos. Só nos anos oitenta, houve tímidas referências nos livros escolares. Em 1995, Chirac reconheceu a responsabilidade francesa na deportação maciça de judeus: «A loucura criminosa do ocupante foi, sabemo-lo, secundada por franceses, pelo Estado francês.» disse num discurso histórico. Este vergonhoso episódio não ocorreu na chamada “França Livre”, sob o regime do marechal Pétain, mas na zona ocupada. É verdade que os invasores exigiram que lhes fossem entregues judeus franceses para os campos de trabalho. Contudo, foi iniciativa francesa a de nesta rusga incluir menores de 16 anos. Como no filme se salienta, a intenção foi a de não ficarem com o problema dos órfãos.