Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo III.  Alguns retratos mais   sobre a globalização, sobre a desindustrialização

 

 

3. A Alemanha, os Estados Unidos e a China na economia global

 

3.1 Na Alemanha, as marcas Adidas, Hugo Boss, as marcas como Grundig ou Porsche deslocalizaram desde há muito tempo a sua produção.


Cécile Boutelet, Le Monde,  26.03.2012  

 

Para Gudrun e Jürgen Schmitt, o “made in Germany” afirma-se por si-mesmo e desde há muito tempo. Jürgen gosta de contar aos seus dois filhos como o seu pai lhe explicou que consumir alemão era a melhor maneira de reconstruir o país no pós-guerra. A única forma de patriotismo ainda aceitável após o trauma do período nazi. E, em seguida, os produtos alemães não são eles considerados no mundo como uma garantia de qualidade e de fiabilidade?


Contudo, Gudrun tem dúvidas. Há alguns meses atrás, aprendeu que o rótulo “made in Germany” não tinha nenhuma definição legal! O critério é atribuído a partir da ” última etapa importante da transformação”, o que quer dizer que um produto fabricado a 90% no estrangeiro pode reivindicar o rótulo made in Germany… Especialistas e as associações de consumidores regularmente denunciam esta falta de transparência. Cerca de 57% dos alemães consideram também que isso já não representa nenhuma garantia de origem nem de qualidade.


Em seguida, com a ajuda de alguns sites especializados, na Internet como, por exemplo,  Verbraucherportal Deutschland ou Ja zu Deutschland, que identificam os industriais que têm mantido pelo menos metade da sua produção na Alemanha, os Schmitt tentam então orientar-se por aí.


Em primeiro lugar, a roupa. A nossa família já exclui da sua lista de compras a Adidas, Puma e outros como Hugo Boss, que deslocalizaram a sua produção desde há muito tempo. Por sorte, eles ainda podem contar com um defensor de “100% Alemão “: a marca de têxteis Trigema. Algodão normal ou bio, fabrico alemão, empregos garantidos, com o custo de  39 Euros o pólo de senhora e 44 euros o par de Bermudas homem,  o casal pode comprar roupas em boa consciência nas lojas do grupo.


Quanto a sapatos, a família calçará Birkenstock (a partir de 39 euros) no Verão. No Inverno, optam pela marca Joseph Seibel ou outros pequenos produtores como Jomos. Mesmo se a esposa refila um pouco. São na verdade sapatos confortáveis, mas muitas vezes concebidos para pessoas com mais de 50 anos. Difícil de estar na moda e continuar a ser patriótico…


Ao nível da alimentação, o nosso casal teve que fazer bem as contas para se situar dentro do  seu orçamento. a carne alemã com grande desconto e a carne  bio local muito cara, é necessário saber combinar: no país de Aldi, há pouco espaço para o mercado de gama intermédia. Há é certo, Dr. Oetker, que produz as suas pizzas supercongeladas em Wittenburg, na Alemanha, mas isso não faz sonhar Gudrun.


Felizmente, para a casa, o casal Schmitt pode contar com a marca Miele, que lhes fornece aspirador, máquina de lavar e secar assim como os seus grandes aparelhos de cozinha. Apesar da forte concorrência, a marca resiste à deslocalização e ainda realiza a maioria de sua produção na Alemanha. Mas para o casal, a soma é incómoda: os aparelhos Miele custam o dobro da concorrência. “Mas os electrodomésticos Miele são concebidos para durar 20 anos, o investimento rentabiliza-se por si-mesmo ao longo do tempo,” garante a marca, fundada em 1899.


Quanto a material electrónico, é difícil encontrar produtos destinados ao consumidor que sejam produtos “made in Germany”. Para o registo as suas contas Gudrun utiliza dictafones de Grundig Business Systems, um ramo do grupo Grundig a fabricar ainda na Alemanha, em Bayreuth. Jürgen sonha ainda em comprar uma TV da marca Loewe, feita parcialmente em Kronach, na Baviera mas, a mais de 1 200 euros na entrada da gama baixa, terá que esperar um pouco.


Quanto a comprar carro, os Schmitt podem suspirar de alívio… Pelo menos é o que eles pensam. Porque o automóvel alemão é um complexo entrelaçado de peças fabricadas parcialmente no exterior. O famoso Porsche Cayenne, de que o motor é feito em Leipzig, é assim montado em grande parte em Bratislava, na Eslováquia! A fábrica também produz peças para a Volkswagen, cuja produção beneficia desde há muito tempo dos salários do leste europeu…


Cécile Boutelet


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