Globalização e Desindustrialização – 4ª Série

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 

Capitulo III.  Alguns retratos mais   sobre a globalização, sobre a desindustrialização

 

3. A Alemanha, os Estados Unidos e a China na economia global

 

 

 

3.3 Na China, todas as compras ou quase todas da família Li são fabricadas localmente, mesmo o Audi em que sonha madame Li.


Harold Thibault, Le Monde, 26.03.2012

 

O senhor Li, que trabalha durante a semana num escritório em Shanghai, gosta de vestir roupa tipo casual no fim-de-semana. Mas na condição de vestir chinês! No entanto, ele veste um casaco do japonês Uniqlo, cujas muitas e enormes lojas se multiplicam nas principais cidades do leste da China. Mas, se os designers da marca estão em Tóquio, a etiqueta diz que se trata do tradicional têxtil “made in China”, que constitui 30,7% das exportações mundiais do têxtil.


Por outro lado, o senhor Li é surpreendido com os seus ténis Adidas, comprados a 680 yuans (81,4 euros): são fabricadas no Vietname! O aumento dos salários na China leva, de facto, cada vez mais os industriais a olharem para o Sudeste asiático onde a mão-de-obra é ainda bem mais barata.


No que se refere à alimentação, não há nenhuma razão para inquietações, tudo é feito localmente. De qualquer forma, a família Li prefere comprar água da marca Fontes de Nongfu, a 3 Yuan a garrafa, em vez da garrafa de Evian importada dos Alpes a 21,9 Yuans. No que se refere à cerveja, eles preferem, obviamente, a cerveja Tsingtao, produzida em Qingdao, cidade costeira onde os alemães introduziram a produção em território chinês, em 1903.


O iPhone montado na China


Elemento base da culinária local, o arroz é da marca Shantou Golden Resources e vem das plantações chinesas. Mas o país deve agora importar parte do arroz que consome uma vez que a demografia é galopante. O óleo de sésamo é de uma marca sediada em  Hong Kong, Lee Kum Kee, cuja  principal fábrica está instalada em Guangdong.


No apartamento do casal Li, a mesa é em madeira. Se as plantações locais cobrem 65% a 70% do consumo, as necessidades são tais que países como o Canadá ou a Rússia exportam agora madeiras para a China. Quando eles vão ao Ikea, o nosso casal tinha atenção ao que dizem as etiquetas. Se há um grande número de móveis que são “made in China”, outros também vêm do Vietname.


Quanto à compra de material de cozinha, o casal Li comprou recentemente um nova máquina de lavar roupa Haier, uma marca bem conhecida e reputada na China com sede em Qingdao e a produção localizada no sudeste industrial. Mas essa tecnologia tem um custo: 6 699 Yuans (802 euros), por aparelho o que é muito caro para a China.


Ligados permanentemente, o casal Li tem cada um deles um smartphone. Para ela: um iPhone da Apple, desenhado na Califórnia, mas montado na China, nas fábricas Foxconn, em Shenzhen. O seu marido teria preferido a marca chinêsa Huawei, cujo enorme centro de pesquisa está também instalado também em Shenzhen.


Quanto à compra de carro, a senhora Li, que trabalha longe do Centro, comprou este ano um Chery modelo QQ, um dos mais baratos do mercado, 30 900 Yuans sem opções, sem extras, qualquer coisa como 3 698 euros. Ele é montado em Wuhu, a oeste de Shanghai. Ela teria preferido, se ela tivesse os meios para pagar, comprar um Audi, que só tem de alemão o seu logotipo e a sua concepção: a marca foi forçada pela regulamentação chinesa a criar uma joint venture com um parceiro local, o grupo estatal FAW. Os Audi da China são, portanto, montados em Changchun, no nordeste do país.


O senhor Li usa o metro, mesmo se a linha 1 está equipada com as composições feitas pelo canadiano Bombardier e a linha 2 com as viaturas projectados pelo alemão Siemens e pelo francês Alstom. O seu gabinete no Shanghai World Financial Center, também é um pouco estranho: a Torre de 492 metros foi desenhada pelo gabinete japonês Mori e construída com vigas de ferro cujo minério foi importado da Austrália. Felizmente, o café que o Sr. Li toma todos os dias no Starbucks, que é uma marca americana, provém de Yunnan, no sudoeste da China. Ufa!


Harold Thibault

Leave a Reply