A POESIA E O TRABALHO – Urbano Tavares Rodrigues

Urbano Tavares Rodrigues (1923)

 

 

Mulheres do Alentejo

 

Mulheres do Alentejo

Com papoilas nos olhos

São primaveras erguidas

Contra os bastões contra as balas

Oculto o rosto

Seus negros chapéus descidos

Frene ao sol

O claro choro nas mãos

Com bagos de amanhã.

São cor de terra

Cor de trabalho

Cor da habituação à dor.

Nossa Pátria do sofrimento

E do valor

Meu sinal de luz

Em toda a palavra que escrevo

Meu território do regresso e do futuro

Minha praia de secura

Percorrida pelo ódio e pelo pânico

Eis o ardente povo torturado

Esperança viva de um sonho feito carne

Mulheres searas fontes azinheiras

Nossa esperança, ainda em flor e fruto

No vermelho das feridas deste País de Abril

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