Diário de bordo de 12 de Maio de 2012

 

Na tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, Passos Coelho pediu aos portugueses que adoptem uma “cultura de risco” e expendeu uma pérola de sabedoria –  o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser “uma oportunidade para mudar de vida”. Condenou a “aversão ao risco” que predomina entre os portugueses, que mesmo em jovens preferem “ser trabalhadores por conta de outrem do que empreendedores”. Porém “essa cultura tem de ser alterada” e substituída por “um maior dinamismo e uma cultura de risco e de maior responsabilidade, seja nos jovens, seja na população em geral”.  Referindo-se aos que estão sem emprego, disse: “Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade”. E afirmou a necessidade de apostar em “modelos de desenvolvimento de valor acrescentado, de forte base tecnológica” para ganharem competitividade económica, e não nos preços baixos. “Essa não é a competitividade que nos interessa. No curto prazo, no meio da crise em que estamos, claro que é preferível ter trabalho, mesmo precário, do que não ter, claro que é preferível trabalhar mais do que não trabalhar, vender mais barato do que não vender”, mas “o modelo para o futuro tem de ser o de acrescentar valor”.

 

Como Jerónimo de Sousa disse hoje, a ideia do primeiro-ministro de que o desemprego pode ser uma oportunidade é uma “ofensa”, acusando Pedro Passos Coelho de não conhecer “o que é a vida” nem as “dificuldades dos portugueses. Claro que tem razão. Não só é uma ofensa a quem está desempregado, como é um atentado à inteligência – como sempre acontece quando com uma estupidez  se pretende negar o que é óbvio. E, neste caso, é óbvio que estamos numa situação-limite, à beira de um colapso do pouco que resta da nossa estrutura social e que não serão frases ocas que nos salvarão.

 

Aliás, este senhor usa o expediente de culpar os portugueses em geral por erros cometidos por alguns – somos piegas, mandriões e tão estúpidos que não percebemos que estar desempregado é uma oportunidade para mudar de vida. Como se estar desempregado não fosse uma dramática mudança de vida…

 

Já estamos fartos de bater nesta tecla – o facto de Passos Coelho e a sua equipa terem chegado ao poder, enfrentando agora um António José Seguro, ou seja quando duas pessoas como eles ocupam o poder e a liderança da oposição, constitui uma prova do não funcionamento da democracia. Aos defeitos de que Passos Coelho nos acusa, juntamos o da credulidade – como podemos votar em gente como ele ou como o seu opositor. Groucho Marx dizia que nunca entraria num clube que o aceitasse como sócio. Passos Coelho parece desprezar quem o elegeu.

 

E nisso até tem razão.

  

 

 

 

 

 

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