CARTA DE VENEZA – 9 – por Sílvio Castro

 

“ JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS: Literatura em língua portuguesa e testemunho”

 

 

Neste 22 de Maio de 2012, realiza-se em Pádua um encontro internacional de estudos de grande significado para a Universidade da cidade. Trata-se da Jornada de Estudos – Literatura em língua portuguesa e testemunho. A Jornada, que reune estudiosos e escritores portugueses, brasileiros e italianos, é uma realização da  “Cátedra Manuel Alegre“, mantida na Universidade patavina pelo Instituto Camões e ocupada pela prof.a Sandra Bagno, docente do Setor de Português do mesmo Ateneo. Esta é uma das várias cátedras de estudos portugueses criadas pelo Instituto Camões em muitas universidades italianas e européias em geral.

 

Com elas, a cultura de Portugal, sua língua e sua literatura, se propaga em termos de alta formação de especialistas. Apesar da grande crise econômico-financeira mundial que coloca o País em gravíssimas condições, o Instituto Camões mantém a sua invejável linha de cooperação internacional como exemplo notável para outras políticas culturais de países membros não só da Comunidade Européia.
 

O setor de Português da Universidade de Pádua foi criado pelo seu primeiro docente titular, o Prof. Sílvio Castro, no ano-acadêmico 1962-63.

 

Desta maneira, nos aproximamos das comemorações dos 50 anos de Português no Ateneo que teve Damião de Góes entre os seus alunos magníficos. A Cátedra Manuel Alegre, dirigida por Sandra Bagno, é o prosseguimento da colaboração que o Instituto Camões sempre ofereceu ao Setor, componente do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da segunda mais antiga universidade da Itália e uma das mais antigas da história universitária mundial.
 

O Encontro “Letteratura in lingua portoghese e testimonianza”, patrocinado pela Università degli Studi de Pádua, pelo Instituto Camões e pelo Comune de Pádua, se realiza na esplêndida sala Ippolito Nievo da sede central do Ateneo, o dito “Palazzo del Bo”, e oferece um vasto programa:

 A relação ao Encontro feita pelo romancista, ensaísta e poeta Manuel Alegre, patrono da Cátedra do Instituto Camões oferecida a Pádua, baseou-se principalmente no seu poema “Balada dos Aflitos” que acaba de ser traduzido para o italiano por Sandra Bagno. Aqui seguem os dois textos,

    

BALADA DOS AFLITOS

     

poema de Manuel Alegre

   

   Irmãos humanos tão desamparados
   a luz que nos guiava já não guia
   somos pessoas – dizeis – e não mercados
   este por certo não é tempo de poesia
   gostaria de vos dar outros recados
   com pão e vinho e menos mais valia.

   Irmãos meus que passais um mau bocado
   e não tendes sequer a fantasia
   de sonhar outros tempos e outro lado
   como António digo adeus a Alexandria
   desconcerto do mundo tão mudado
   tão diferente daquilo que se queria.

   Talvez Deus esteja a ser crucificado
   neste reino onde tudo se avalia
   irmãos meus sem valor acrescentado
   rogai por nós Senhora da Agonia
   irmãos meus a quem tudo é recusado
   talvez o poema traga um novo dia.

   Rogai por nós Senhora dos Aflitos
   em cada dia em terra naufragados
   mão invisível nos tem aqui proscritos
   em nós mesmos perdidos e cercados
   venham por nós os versos nunca escritos
   irmãos humanos que não sois mercados.

      

 

BALLATA DEGLI AFFLITTI 
 
     

 

     Fratelli umani così abbandonati
     la luce che guidava più non guida
     siamo persone – dite – e non mercati
     questo di certo non è tempo di poesia
     vorrei recare a voi altri messaggi
     con pane e vino e meno plusvalore.

     Fratelli miei che in questa brutta ora
     no vi rimane neppur la fantasia
     di sognare altri tempi e altri lidi
     come Antonio a Alessandria dico addio
     disordine di un mondo sì mutato
     sì diverso da quel che si voleva.

     Forse stanno crocifiggendo Iddio
     in questo regno dove tutto è soldi
     fratelli miei senza valore aggiunto
     prega per noi Signora dell’Agonia
     fratelli miei a cui tutto è negato
     vi porti forse un nuovo giorno la poesia.

     Prega per noi Signora degli Afflitti
     ogni giorno in terra naufragati
     mano invisibile ci ha qui proscritti
     in noi stessi perduti e accerchiati
     vengano a noi versi mai scritti
     fratelli umani che non siete mercati.

         

(trad. ital. de Sandra Bagno)

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