EM COMBATE – 67- José Brandão

 

 

CAPÍTULO II – Generalidades

Iniciado o deslocamento para a Zona de Acção do primeiro escalão da Companhia, chegou ao Mutumbo no dia 19 de Janeiro de 1971, depois de ter pernoitado em Nova Lisboa. Em 22 de Janeiro chegou o segundo escalão. Em 24 de Janeiro, a Companhia assumiu a responsabilidade da Zona de Acção. Ainda não tinha decorrido uma semana depois da sua chegada, quando a 2ª fase da Operação “Alvorada” se iniciou, com o Posto de Comando na sede da Companhia. Foi solicitado ao comandante da Operação autorização para se integrarem na mesma alguns homens da Companhia e, assim, seguiram o Alferes Valente, os Furriéis Lopes e Borges de Oliveira e os soldados João Adelino Marques de Jesus e Manuel de Sousa Ribeiro.

Foram estes militares os primeiros a tomar parte numa operação de grande envergadura. Ainda em apoio àquela operação, prestou-se colaboração, nomadizando na região compreendida entre o Rio Cuanza e o Rio Luâmbua, tendo esta missão cabido ao 1º Grupo de Combate.

Já depois de a Companhia estar sedeada no Mutumbo, recebeu os militares do recrutamento da Província, pelo que foram presentes 41 militares vindos do Regimento de Infantaria nº 22, situado em Sá da Bandeira. Recebeu também o Furriel Miliciano Orlando António Martins e o 1º Cabo Escriturário José Manuel Fernandes da Silva, transferidos das suas Unidades devido a castigos. Foram também adstritos a esta Companhia os Grupos Especiais (G.Es) 400 e 405.

 

 

SITUAÇÃO GERAL

 

A Zona de Acção da Companhia é definida numa zona atravessada por grande número de rios, entre os quais destacamos o Cuanza, o Luâmbua e o Chimbandianga, sendo de salientar o Cuanza, por ter sido até agora o obstáculo intransponível aos grupos inimigos.

É nas matas que ladeiam os rios Luâmbua e Chimbandianga e ainda os seus afluentes, que o inimigo se acoita e, onde se localizam os acampamentos mais importantes.

O terreno apresenta dificuldades de ordem vária, salientando a existência de enormes anharas que quebram a surpresa nas Acções que expõem as nossas tropas ao fogo inimigo. Dado que a mata nestas regiões é bastante aberta, salvo raras excepções, o inimigo não tem usado a técnica de emboscadas, preferindo a implantação de minas anti-carro e anti-pessoal, bem como as flagelações à distância.

A Zona de Acção encontra-se enquadrada nas características gerais do Sector do Bié, pois corresponde a parte do subsector do Chitembo, sede do Batalhão, localizando-se as restantes Companhias no Umpulo, a Companhia de Caçadores 3321 e no Mumbué a Companhia de Caçadores 3322, ambas formadas pelo Batalhão Independente de Infantaria 19 no Funchal. Este sector tem uma importância militar de destaque atendendo a que confina com 60%  dos distritos de Angola.

Atendendo a que o clima de uma região influi de sobremaneira na actividade militar, far-lhe-emos uma ligeira referência, tendente a caracterizar a região, no concernente a condições climatéricas. O clima do Bié é um clima de altitude, tendo o raro privilégio na Província de Angola de se encontrar abrangido por médias exotérmicas anuais compreendidas entre os 19º e os 25º centígrados. O clima é cómodo durante todo o ano. Tal como em toda a Província, temos a considerar duas épocas: a das chuvas, que vai de Setembro a Abril e a do cacimbo, de Maio a Agosto. A temperatura média durante a primeira época é de 20º centígrados, sendo o intervalo de oscilação entre os 15º e os 25º centígrados, sendo a humidade de 80%. Durante a época das chuvas são frequentes as trovoadas, geralmente precedidas de tempestades em que o vento sopra fortíssimo. Na segunda época citada, encontramos a ausência de chuvas, uma humidade média de cerca de 30% e uma temperatura média de 16º centígrados, com uma amplitude de oscilação compreendida entre os 8º e os 25º centígrados.

Nestas características climatéricas condicionam-se as actividades militares, pois na época das chuvas os itinerários tornam-se sempre difíceis, ficando por vezes intransitáveis muitos deles, devido ao aumento de caudal dos rios, ribeiros e linhas de água, ficarem cortados. Inundam-se os terrenos e ficam destruídos ou danificados os pontões e até pontes de construção provisória, que abundam em grande profusão.

Neste período, o pessoal empenhado em operações permanece quase sempre molhado, não só pela chuva que cai com muita frequência, como também pelo facto de ter de percorrer extensas áreas submersas ou com vegetação rasteira, quase constantemente encharcadas. Torna-se portanto impossível seguir pistas na medida em que a chuva destrói todos os indícios.

Pelo contrário, a época do cacimbo torna-se propícia para a realização de operações militares. As pistas deixadas pelo inimigo mantêm-se durante dias e até semanas. A Tropa vive com mais salubridade graças ao clima seco e constante. Como não há bela se senão, esta salubridade e, dado que durante a noite a temperatura é bastante baixa, obriga a tropa a transportar mais agasalhos e consequentemente com peso de sobrecarga. Para o inimigo, a época das chuvas proporciona-lhe maiores facilidades resultantes da morosidade e dificuldades da nossa tropa em progredir em direcção aos locais onde se acoitam. No entanto, é nesta época do ano que os grupos inimigos sentem mais dificuldades na sua alimentação e em se defender das intempéries. As contínuas e longas chuvadas castigam duramente o inimigo que normalmente não possuem agasalhos e medicamentos em grande profusão, que lhes permita fazer face às frequentes doenças. Na época do cacimbo, o inimigo não necessita de abrigos de carácter permanente, podendo viver em abrigos improvisados. A alimentação torna-se mais fácil neste período, as doenças tornam-se mais raras e o inimigo aumenta a sua mobilidade. Nesta época é que o inimigo aumenta a sua actividade aumentando também a colocação de minas, pois durante a época das chuvas a implantação destas é normalmente denunciada pelas chuvas que arrastam as terras que as cobrem, deixando as mesmas denunciadas.

A vegetação que cobre esta zona é do tipo terri-erbosa e savana de tipos diversos. Nas imensas anharas que se traduzem em prodigiosas pradarias, vivem as palancas, cabras de mato, nunces, pacaças, etc., e na mata escondem-se as onças, o javali e o leão. O peixe é abundante nos rios onde habita também o jacaré e o hipopótamo. Na Zona de Acção da Companhia  o terreno é argiloso-arenoso na sua maioria.

O Mutumbo é servido pela picada de Cachingues  que presentemente se encontra em más condições de piso e obras de arte. O Mutumbo possui uma pista para a aviação com 900 metros de comprimento e 30 de largura, com piso de pirite, utilizável durante todo o ano.

 

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