Anna Akhmátova Música
(tradução de António Mega Ferreira)
(Amadeo Modigliani)
Anna Akhmátova (1889-1966) nasceu perto de Odessa e começou muito cedo a escrever poesia.
Viajou pela Europa onde conheceu o pintor Modigliani.
A sua vida acidentada assistiu à prisão e morte de dois dos seus maridos (1921 e 1934)
e do poeta Mandelstam (1936) de quem era amiga,
após o que se seguiu um período fértil na sua criação poética.
Em 1940, tornou-se membro da União dos Escritores Soviéticos de que foi expulsa em
1946. Mas, em 1964, após o “degelo” político na URSS,
Akhmátova, ascendeu ao lugar de presidente da União dos Escritores Soviéticos.
O seu reconhecimento no estrangeiro granjeou-lhe o prémio Etna-Taormina.
Morreu em 5 de Março de 1966.
(dados recolhidos em Anna Akhmátova, Prosas Escolhidas e Poema Sem Herói, Relógio d’Água)
Para Dmitri Dmitrievich Schostakovich
O vestígio de um milagre arde dentro dela,
e só o seu olhar, múltiplo e brilhante,
me dirige a palavra, fala-me de perto,
quando outros receiam aproximar-se.
Quando o último dos amigos despediu de mim o seu olhar,
ela veio deitar-se no túmulo a meu lado
e cantou como canta a tempestade,
como se todas as flores começassem a falar.
.
Anna Akhmátova, 1958
(in Anna Akhmátova e Marina Tsvétaïeva, E Cantou Como Canta a Tempestade, Assírio & Alvim)