Diário de bordo de 30 de Maio de 2012

 

 

Uma efeméride e um artigo orientam este editorial –  Em 30 de Maio de 1834, Joaquim António de Aguiar promulgou a lei pela qual todos os bens das ordens religiosas regulares eram incorporados na Fazenda Nacional.  Ganhou o apodo de o Mata-Frades. O ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça era um rapazola de 42 anos e viria ser chefe do Governo – na primeira ainda não fizera 50 anos. Daniel de Oliveira, em artigo do Expresso, interroga-se como pode ter chegado a primeiro ministro um rapazola que produz declarações disparatadas com a facilidade com que Passos Coelho o faz. Pergunta à qual Daniel de Oliveira sabe responder. Qualquer figura protegida pela oligarquia neo-liberal que nos dirige chega a primeiro-ministro ou a presidente da República. Seja um sábio ou um orangotango.

A dificuldade terá sido, tendo em conta os condicionalismos – a Constituição, por exemplo – implantar o sistema. Mário Soares, que tem manifestado algum  incómodo pela situação que se está a atingir, em 1987, quando presidente da República, convidou Karl Popper para vir a Lisboa proferir uma conferência. Já temos neste blogue aludido a essa conferência que foi uma peça na tarefa de desconstrução do modelo de democracia com que uma parte dos portugueses sonhava.

 

Popper falou para uma assistência atenta e contou como o ideal comunista o atraíra na juventude. Porém, ao longo da vida foi concluindo que a teoria da História de Marx e a sua convicção na inevitabilidade do Socialismo, apresentava falhas e soluções de continuidade. E falou sobre Democracia. A teoria clássica da democracia defende que o poder reside no povo e que este tem o direito de o exercer. Platão foi o primeiro teórico a sistematizar as diversas formas que pode revestir a Cidade-Estado: Monarquia – governo de um só homem bom: Tirania (governo de um só homem mau – perversão da Monarquia); Aristocracia, governo de vários homens bons – Oligarquia (distorção de Aristocracia, um grupo de homens maus partilhando o poder); finalmente, surge a Democracia – governo de muitos homens, ou seja, do povo; para esta forma de governação, não encontrou perversão ou distorção, visto que muitos homens, formam uma «Turba», e o conceito de Democracia inclui já, a par da sua forma correcta – um bom, governo do povo, a forma perversa – a barafunda e o caos – a «Turba». Comprova-se que de Platão a Marx, o problema foi o de saber quem deve governar. Platão respondeu ingenuamente à sua própria questão – devem governar os melhores – os Aristocratas, os homens bons, mas nunca a Demos, a Turba, a balbúrdia. O actual governo que temos será, para Mário Soares, para Popper e talvez para Platão, um governo de homens bons. Mas parece mais um governo de homens maus ou, pelo menos, insensíveis aos problemas da turba.

 

A idade de Passos Coelho é uma boa idade. Aliás Daniel de Oliveira explica bem o que quer dizer com rapazola: «Não atribuo às infantis declarações de Passos Coelho sobre o desemprego nenhum sentido político ou ideológico. Apenas a prova de que é possível chegar aos 47 anos com a experiência social de um adolescente, a cargos de responsabilidade com o currículo de jotinha, a líder partidário com a inteligência de uma amiba, a primeiro-ministro com a sofisticação intelectual de um cliente habitual do fórum TSF e a governante sem nunca chegar a perceber que não é para receberem sermões idiotas sobre a forma como vivem que os cidadãos participam em eleições.»

Popper esqueceu-se de explicar o que faz a turba quando um homem bom incorpora na Fazenda Nacional parte substancial dos magros salários e pensões, quando cria uma onda de desemprego cujas consequências ainda estão por avaliar – quando para cumprir ordens do exterior, põe a grande maioria dos portugueses na miséria.

Talvez a Fundação Mário Soares possa convidar alguém qualificado para explicar à turba o que fazer – podemos sugerimos nomes.

 

 

 

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