A APLICAÇÃO DA LEI – I – por Raúl Iturra

Parecia-me uma ignomínia as formas de tratamento dos patrões aos inquilinos, especialmente se eram da Nação Mapuche. Porque denomino Nação ao que se denomina normalmente uma etnia na nossa ciência da Antropologia? Primeiro, porque eram os proprietários da terra tomada a eles pelos invasores estrangeiros, pelos huinca, porém. Para os Mapuche, eu não era chileno, era estrangeiro ou huinca. Este conceito não está definido no Dicionário Da Real Academia da Língua Espanhola, por não ser palavra do mal chamado Língua Espanhola.

 

Como também não aparecem as palavras usadas pelo luso – galaicos da Galiza, ou o Bable das Astúrias, denominado pelo arrogante Dicionário citado como dialecto de los asturianos, ou o euzkaro das Províncias Bascas que a real academia da língua não reconhece como idioma do Reino de Espanha, ou a língua Catalã, que define como Lengua romance vernácula que se habla en Cataluña y en otros dominios de la antigua Corona de Aragón.

 

Apesar de que o meu avô paterno era aragonês e falava um Castelhano que apenas se podia entender, a língua aragonesa foi apropriada pelo Catalão e pertence a essa ordem de sintaxes, como a língua das olha Baleares, a língua de Valência, todas estas línguas estão definidas como as que se falavam no antigo reino de Aragão e do principado de Aragão, título hierárquico adjudicado ao filho do rei, para o preparar para um dia se rei e governante.

 

Os tempos passam, os factos históricos mudam, os Reis Católicos unificaram Espanha, retirando das suas coroas a todo rei ou rainha que não for Castelhano. Espanha ficou unificada pelos Castelhanos, por outras palavras, pelo Reino de Castela, governado por Isabel I de Castela, casada com o Rei Fernando de Aragão, que renunciou à Coroa para ser, em conjunto com a sua consorte, os Reis da Espanha unificado, como analiso no meu livro Esperança, uma história de vida, editado por Carlos Loures no blogue Estrolabio, e pode ser lida em: http://estrolabio.blogspot.com/2010/09/esperanza-historia-de-una-vida-14-por.html

A partir da unificação de todos os reinos e califados árabes e judaicos, aparece o Estado Espanhol, justo na época em que um Novo Mundo foi descoberto, como referi no Capítulo 5 deste blogue, o denominado primeiro Índias Orientais, mais tarde as terras de Américo, para acabar por ser o Continente americano ou América. Como Isabel falava Castelhano e o seu povo também, a nova Espana viu-se, pela primeira vez, a abandonar as suas línguas maternas, aprender castelhano. Castela-Mancha faz fronteira com Castela-Leão, Madrid, Aragão, Valência, Múrcia, Andaluzia e Estremadura e é composta pelas províncias de Toledo, Cidade Real, Cuenca, Guadalajara e Albacete.

A capital de Castela-Mancha é Toledo. São parte dos reinos anexados a Castela por Isabel I e obrigados, pela primeira vez na história do Estado Espanhol, a falar a língua da Rainha e dos seus súbditos. A segunda vez, foi o Ditador da Espanha, que governou como ditador o Estado, durante quase 40 anos, desde 1939 até 1974.

Isabel de Castela acautelou a liberdade dos reinos unidos a Castela – La Mancha, mas baixo a sua soberania. Unificou Espanha, acabando com os invasores mouros e sentando na Nova Espanha, um conjunto de castelhanos e de outros reinos, sucedâneos de Isabel. A lei foi sempre respeitada, permitindo aos seus súbditos reger as suas terras e relações sociais como os éditos da Espanha unificada, permitindo os costumes dos antigos reinos, serem parte das leis que os governava.

 

É o que me interessa neste ensaio: quem governa a quem e como são tratado os súbditos ou empregados, qual a sua hierarquia e o respeito que por ela se exercer, por outras palavras, qual a divisão em grupos sociais e as guerras, que no caso de Espanha, se exerce sobre os mouros que tinham invadido, por Séculos, o que era a Península Ibérica. Isabel de Castela não teve piedade, mandou, derrotados, aos marroquinos de volta ao seu país, bem como instalara bairros dos que não tinham onde ir, com os judeus. Fez de Granada e Sevilha, judiarias, isolando ao que no passavam a ser católicos, dentro dessas ruas estreitas e mal tratadas. Fez das mesquitas islâmicas, igrejas católicas, para grande tristeza nossa, os estetas da arquitectura, sem conseguir, no entanto, desfazer os imensos monumentos como eram construídas as igrejas romanas. A mesquita de Sevilha apenas foi possível por uma cruz na torra alta, e substituir as pedra de oração, por altares. Felizmente, séculos passados, com o ditador morto, a mesquita foi restaurada para a sua feitura original que é o que hoje vemos, as judiarias acabaram e apareceu a liberdade de trânsito e o direito a ser de nacionalidade espanhola. Excepto, se eles não queriam. As novas leis permitiam a liberdade de expressão, desde a morte do dotador, tão o mais cruel que Isabel de Castela: os dois invadiam, expulsavam pessoas que pensavam inconvenientes, mandavam aos inimigos a construir monumento para glória deles, arquitectura que servia também de túmulo para os que não suportavam os trabalhos e as faltas de comida.

 

Lembro bem que, ao visitar esse monumento imenso que levou vinte anos a ser construído, El Valle de los Caídos, sepultura dos franquistas e do ideólogo do fascismo espanhol, José Primo de Rivera, com um mausoléu sobressalente, para servir no dia adequado, de túmulo do Ditador, como de facto aconteceu. Visitava, pois, esse Valle de los Caídos, com um grupo de ingleses e o guia contava mentiras sobre o objectivo: pedi a palavra, enderecei o meu discurso aos britânicos que nada sabiam da história de Espanha e contei como tinha sido construído e a quantidades de mortos republicanos, inimigos de guerra, que repousavam sem caixa nem sacramentos, e serviam como alicerces de esse imenso monumento. O guia, que sabia que eu também falava castelhano, afastou-me do grupo, e falou em segredo comigo: O senhor está a correr grande risco, eu sou republicano e a guarda civil introduz pessoas de civil para saber o que se fala e se comenta. Se o senhor não tem medo à morte, e é também republicano e tem parentes de alicerce, pelo menos pense em mim, na minha mulher e filhos: posso ser detido, encarcerado e perder o meu posto de trabalho. Foi assim, nos meus juvenis vinte anos, que aprendi uma lição sobre a lei. Não falei mais, o que o guia agradeceu.
(Conclui amanhã)

 

 

 

 

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