A propósito de uma série que vai ser suspensa, a propósito de uma serie que há-de voltar.

Uma entrevista com Arnaud de Montebourg

 

Por Júlio Marques Mota

 

 

(continuação)

 

 

Mas não nos diz o que deve fazer a França…


A questão da competitividade é central. Ninguém o nega. Mas esta competitividade não pode ser alcançada à custa dos assalariados ou dos  consumidores. O IVA dito “social” era ineficaz e injusto, mas há outras soluções a imaginar. A Conferência social é o lugar onde estas questões devem ser tratadas.


Esta será uma troca possível de concessões recíprocas, a que eu chamo de reconquista industrial. Por exemplo, podemos ainda aceitar que postos de trabalho estejam a ser destruídos enquanto que, se algumas empresas aceitassem  rentabilidades  menos mirambolantes, estes postos de trabalho seriam preservados? As empresas devem ser capazes de aceitar medidas de limitação dos abusos. Um projecto de lei está em preparação. Quando sites rentáveis mas de margem insuficiente são abandonados pelos grupos por razões puramente financeiras, estamos a trabalhar sobre mecanismos que permitam a venda por via judicial a um comprador ao preço de mercado, sem espoliação.

 

Em que empresa está a pensar?

 

Estou a pensar numa infinidade de empresas que estão nessa situação. Por exemplo, o site Lafarge de Frangey em Yonne, Rio Tinto, em St.-Jean-de-Maurienne. Numa economia normal, protegida contra os excessos da economia financeira, a procura de lucros não deve esmagar  o trabalho.

 

Os países europeus tendem a flexibilizar o mercado de trabalho. As leis em preparação não estão elas a contra-tempo, a contra-corrente?

 

Coloca-se sempre à frente as pretensas rigidezes. Mas já existe flexibilidade. Trabalho  a tempo parcial imposto ou em regime de contrato de duração determinada, os CDD, todos eles são dessa flexibilidade um grande testemunho.

 

Concentrando-se nos planos sociais, que representam apenas 3% dos postos de trabalho, não será que se passa ao lado dos  empregos verdadeiramente  precários?

 

Cada vez que um grupo fecha uma empresa e destruiu uma unidade industrial por razões financeiras, ele arrasta nessa decisão todos os subcontratantes e funcionários que trabalham à volta da empresa. Se nós conseguirmos recuperar a refinaria Lyondell Basell, teremos salvado centenas de postos de trabalho, mas também salvaremos sete vezes mais postos de trabalho, induzidos pelos subcontratantes.

 

Será este o momento de aumentar o SMIC  ?

 

Foi anunciado um pequeno aumento. As suas modalidades serão determinadas  mais ou menos pelo mês de Junho,  após  consulta aos parceiros sociais.

 

Em face da parcela de imposto sobre o rendimento sujeita à tributação de 75% de imposto, as empresas preparam a deslocalização de determinadas direcções, ou até mesmo da sua sede. Isto não é preocupante?

 

Isto não são medidas que visem atingir as empresas. Em nome do patriotismo económico, elas devem levar os nossos concidadãos que têm a chance de ganhar mais de um milhão de euros por ano para a participar no esforço colectivo. Quer se seja jogador de futebol, artista ou banqueiro, todos nós queremos que a França endireite as suas contas públicas.

 

A sério, acredita nisso?

 

Sim, houve já um momento para os egoísmos, ele esteve mesmo no poder, nos mais altos cargos do Estado. Agora estamos a viver o tempo onde os franceses dão a mão. Este é o tempo da entreajuda nacional.

 

O comunicado final do G-8 expressa uma vibrante defesa da livre-troca. François Hollande participou na sua elaboração. O senhor ministro tê-lo-ia assinado?

 

Conhecem as minhas posições. Technicolor anunciou o encerramento de seu site de Angers, depois que a União Europeia decidiu retirar os 14% dos direitos aduaneiros que incidiam sobre os descodificadores de TV importados. Aonde nos leva a livre-troca integral? A transferir as produções industriais para fora da Europa!

 

O Secretário de Estado do Comércio americano, John Bryson, explicou-me o  seu método para relocalizar as actividades. Ele usa o proteccionismo. Impôs um imposto de 32% sobre as importações chinesas sobre os painéis fotovoltaicos para proteger as  fileiras  americanas. Gostaria de lembrar aqui que as empresas desta fileira estão a falir  na Europa. Como se está a ver pode-se ser como o presidente Obama, ser  na  prática proteccionista e assinar comunicados  no G-8. .

 

Arnaud Montebourg: “sauver les emplois qui peuvent l’être” Declarações feitas aos jornalistas Jean-Baptiste Chastand, Dominique Gallois e Thomas Wieder, Le Monde,  31.05.2012

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