ESPARTILHOS – por Fernando Correia da Silva

Um Café na Internet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                          
 

 

 

 

 

 

 

O garoto, aos cinco anos (portanto antes de ser alfabetizado) já falava como um Menino Jesus na Sinagoga. Aos oito corria para o computador do pai a escrever histórias com muitas personagens e peripécias, graciosidade. Uma vez eu disse-lhe:
 
– É uma história muito gira. Mas olha que o feminino de campeões é campeãs.
– Ai é? Obrigado, Avô, vou já emendar.
 
Nascido e criado num ambiente culto, o meu neto falava e escrevia como um homenzinho culto. Descobrira o grande processo de aprender uma língua: de ouvido, por imitação. E quem diz imitar, diz brincar, diz jogar.
 
Aos doze anos o professor de Português obrigou-o a empinar uma série de regras gramaticais. Consequências: o Luisinho desistiu de escrever.
 
Como pôde isto acontecer? O que fez estancar, de repente, a criatividade de um garoto bem dotado? Dou comigo a pensar no que, há muito tempo, os bons escritores já intuíam: a emoção é o lubrificante natural da razão. Ou, dito de outra forma: retirar a emoção à razão, é gripar o caráter, é desalmar a prosa. Quiseram desalmar o Luisinho, por isso secou a sua criatividade.

A regra (inclusive a gramatical) devia ser um sextante para corrigir as derivas de rumo. Pois devia, mas  transformaram-na em espartilho que deixa o navegador tolhido em terra.
 
Se eu quero que o Luisinho volte a alinhar frases como quem respira, então vou ter que rasgar o seu espartilho, liberdade! 
 

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