A crise, os seus efeitos devastadores, na esfera pessoal, na esfera colectiva

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

 

A Itália tenta reagir face aos suicídios dos pequenos patrões 

 

Philippe Ridet

 

 

Sem se conhecerem, elas decidiram unir as suas forças e sua dor. Na segunda-feira, dia 16 de Abril, Flavia Schiavon e Laura Tamiozzo deveriam lançar a associação das famílias dos empresários que se suicidaram, na pequena cidade  de Vigonza (Veneza).


É nesta pequena cidade que Giovanni Schiavon, o pai de Flávia, dirigia a sua pequena empresa de construção. A de Dezembro de 2011, este terminou acabou com os seus dias. No dia 31 de Dezembro, o pai de Laura imitava-o enforcando-se num hangar. Um como o outro eram empresários, um como o outro estavam cheios de dívidas.


Rede de segurança


Desde o dia 1 de Janeiro de 2011, já se suicidaram  23 pequenos patrões italianos, segundo os dados publicados em 14 de Abril pelo Centro de estudos de CGIA, uma União de pequenos empresários e de artesãos. Face a este fenómeno que afecta toda a Itália – na Toscana, na tradição do “solidariedade”, até à Lombardia, na linha do “cada um por si” – uma forma de “rede de segurança” começou-se já a ser organizada.


Centros de escuta foram criados, como na província de Treviso, uma das mais industrializadas do país. Um número verde foi aberto para ajudar os empresários em dificuldade. As associações, como a Terraferma ou a muito Católica Caritas, instalaram  uma rede de apoio e de  escuta e na mesma sequência  também  a Confartigianato, o sindicato patronal dos pequenos artesãos.


“Esses suicídios são um verdadeiro grito de alarme lançado por quem já não pode mais.” “As taxas, os impostos, a burocracia, a falta de créditos, os atrasos nos pagamentos, tudo isto têm criado um clima hostil que penaliza os empresários”, disse Giuseppe Bortolussi, Secretário de CGIA. “Muitos empresários consideram o suicídio como um acto de revolta contra um sistema surdo e insensível”.

 

As pessoas sentem-se afogadas

 

O governo é apontado a dedo, considerado o responsável. “ O meu pai matou-se por amor à sua empresa e aos seus empregados. “Ele vivia no terror de ter de os trair, de não ser capaz de lhes poder pagar os seus salários,” explicou Laura Tamiozzo numa carta dirigida a Flavia Schiavon, tornada pública pelo jornal diário La Stampa no dia 29 de Março. “Parece que o governo vive noutro planeta.” O plano de rigor de Monti não levará o país a sair da crise. “As pessoas sentem-se afogadas, as taxas aumentam e não há nenhuma ajuda para as empresas.”

 

Antonio Di Pietro, líder do partido A Itália dos Valores, acusa o Presidente do Conselho, Mario Monti,  de ser o  “responsável” por  tais suicídios devido á  política de austeridade e à caça muito mediatizada  para as pessoas em situação de fraude para com o fisco que ele actualmente conduz.


“Massacre do Estado”, foi o titulo principal do  jornal de direita  Libero no domingo,  15 de Abril. No entanto, de acordo com os números do Instituto Nacional de Estatísticas a taxa de suicídio mantém-se estável em Itália. Os suicídios por “razões económicas” baixaram no entanto de 198 em 2009 para 187 em 2010.

 

Philippe Ridet, L’Italie tente de réagir face aux suicides des petits patrons, Le Monde, 16 de Abril de 2012

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