Por Wall Street, os vampiros andarão à solta. Sobre o Facebook – IV
Um pouco sobre a história, por dentro, do que aconteceu com a introdução em Bolsa de Facebook – Conclusão
(continuação)
A SEC e FINRA parecem ter tido já conhecimento disto e estarão agora a investigar o que é que aconteceu. De modo mais geral, toda a gente ainda está a procurar perceber o que é que aconteceu com o preço da entrada em bolsa de Facebook que era encarada como a oferta pública do século. A autoridade reguladora da indústria financeira, a principal administração federal do controle do sector bancário e financeiro, está interessada e de muito perto sobre as condições sob as quais se desenrolou esta operação . De igual modo, o Estado de Massachusetts exigiu, por seu lado, o Banco Morgan Stanley, o líder do consórcio de 33 instituições financeiras que geriram a operação no mercado de acções no valor de 16 mil milhões de dólares , para que Morgan Stanley explique a forma como ela informou os investidores.
Dado o desastre legal que a introdução em Bolsa de Facebook se está a transformar, a maioria dos canais de comunicação oficial têm-se remetido ao silêncio. Facebook declinou comentar. Morgan Stanley não respondeu a nenhum pedido de comentário de resposta por telefone e ou por email feitos por vários jornalistas.
A história que temos estado a ler diz-nos mais ou menos o seguinte:
No início de Maio, quando preparava a sua campanha para a sua introdução em Bolsa TIC, os analistas dos principais bancos subscritores da empresa desenvolveram previsões financeiras para facilitar a comercialização e a determinação dos preços na entrada em Bolsa.
Tais estimativas são habitualmente desenvolvidas através de uma estreita colaboração entre os analistas dos bancos subscritores e a gestão da empresa. Estas estimativas são vistas pelos sofisticados investidores como tendo sido “benzidas ” pela empresa: estas são vistas como rendimentos e como objectivos de ganho em que a empresa reviu, em que está confiante e em que vai insistir na campanha. Os investidores sofisticados utilizam estas estimativas quando eles estão a trabalharem sobre “propostas” face aos títulos, ou seja, utilizam-nas como uma ferramenta para os ajudar a determinar o preço que estão dispostos a pagar.
De sublinhar que estas estimativas não são publicadas em lado nenhum. Pelo contrário, conjugando com a convenção da indústria estas estimativas são transmitidas apenas verbalmente para os investidores institucionais que estão a considerar investir na empresa a introduzir na empresa que vai ser colocada em Bolsa.
(Esta é uma prática absurda e desleal. As próprias estimativas são informações relevantes – e traduzem o consenso entre gente inteligente e bem rodada nestas questões como o são os analistas que trabalharam com a administração da empresa para desenvolver previsões realistas. Muitos dos investidores nem sequer sabe que estas estimativas existem e muito menos ainda que elas são sussurradas verbalmente a apenas um punhado de grandes investidores. Todos os investidores potenciais devem dispor de acesso fácil a estas estimativas, bem como não tem qualquer lógica a exclusão dessas mesmas informações. A SEC precisa mudar as regras em vigor sobre estas matérias.
Vários dias depois, no entanto, em 09 de Maio, Facebook alterou o seu prospecto para a colocação em Bolsa, apresentado na SEC. Esse novo prospecto continha uma nova linguagem na sua apresentação que não tinha previamente aparecido nos registos de Facebook na SEC. A nova linguagem estava na página 57 do prospecto, numa secção em que a empresa discute as recentes tendências financeiras da empresa e dos utilizadores:
Com base na nossa experiência do segundo trimestre de 2012 até à data, a tendência que vimos no primeiro trimestre é de que o nosso volume de negócios aumentou mais rapidamente do que o aumento no número de anúncios entregues. Acreditamos que esta tendência é impulsionada em parte pela crescente utilização de Facebook em dispositivos móveis, onde nós só recentemente começámos a mostrar o número insignificante de histórias patrocinados no News Feed, e em parte devido a que algumas das páginas terem menos por página, como resultado de decisões de produção.
O aparecimento desta linguagem dava a entender aos investidores que a situação de Facebook se poderia ter deteriorado. A linguagem era contudo vaga, e não deixava claro que os resultados do Facebook no segundo trimestre eram mais fracos do que o esperado. (Para inferir esta mensagem a partir do texto tinha-se que saber que os resultados económicos de Facebook no primeiro trimestre tinham sido fracos, e mais, que a causa tinha sido a diferença entre o crescimento dos utilizadores e o crescimento das receitas).
(continua)