agenda cultural de 18 a 24 de Junho de 2012

 

 

 

 

por Rui Oliveira

 

 

 

 

 

   No Sábado 23 de Junho  têm lugar nos espaços da Fundação Calouste Gulbenkian iniciativas diversas daquilo a que deram o nome de Festa da Literatura e do Pensamento do Norte de África, cujo propósito é abordar de formas diversas (conferências, debates, mesas-redondas, filmes) o tema da “Primavera Árabe” como “inspirada por um movimento de luta pela liberdade e pela democracia que abalou os países do Norte de África e do Médio Oriente, conduzindo a alterações de regime e chamando a atenção para os povos, os criadores e os agentes políticos destas regiões”. (veja-se programação completa em

http://www.gulbenkian.pt/media/files/FTP_files/pdfs/PF2012/Desdobravel_programa_PF12.pdf )

   Iniciada na véspera 22 com uma mesa-redonda na Tenda no jardim da FCG, às 19h, sobre Os bloggers da Primavera Árabe”, nela participam Maria João Tomás (moderadora) (Portugal), Mona Prince (Egito), Danya Bashir (Líbia), Yassine Ayari (Tunísia) e Aboubakr Jamai (Marrocos).

   Neste dia 23 (Sábado), nova mesa-redonda às 19h (também na Tenda) desta vez sobre “O Estado das Artes” terá a presença de Bouchra Khalili (moderadora) (Marrocos), Ahmed El Attar (Egito), Mohamed Siam (Egito), Nermine Hammam (Egito) e Soufiane Ouissi (Tunísia).

   Segue-se às 22h, no Anfiteatro ao Ar Livre da FCG, a palestra “A Primavera Árabe explicada por Tahar Ben Jelloun”, o escritor marroquino vencedor do Prémio Goncourt (1987).  

 

   As sessões do dia 24 (Domingo) serão às 19h na Tenda sobre “O protagonismo das mulheres nos países do norte de África” com Michket Krifa (moderadora) (Tunísia-França), Nawel Skandrani (Tunísia), Olivia Marsaud (França) e Nahed Nasrallah (Egito) e às 22h no Anfiteatro ao Ar Livre sobre “Pensadores do Norte de África” tendo presentes Karim Ben Smail (moderador) (Tunísia), Fethi Benslama (Tunísia), Wassyla Tamzali (Argélia) eSamy Ghorbal (França).

 

 

   Com início também a 23 de Junho (Sábado) e prolongando-se até 1 de Julho, decorre no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, com entrada livre, a exibição da peça / instalação de Daniela Thomas, encenadora de teatro e dramaturga brasileira mas também realizadora de cinema,  chamada Breath, a partir dum original de Samuel Beckett, cuja duração é de 4 minutos (havendo sessões de 15 em 15 minutos).

   Teria sido escrita em 1969 pelo autor irlandês para um espetáculo de peças curtas que resultou num grande sucesso do teatro comercial, o erótico “Oh, Calcutta” e, embora a adaptação cénica da altura com os actores nus tivesse indignado Beckett, este Breath, dizem os críticos, tem os seus códigos teatrais puros, é “sintético, enigmático, sardónico, com direcções de uma precisão científica”. 

   Não havendo registo vídeo desta nova encenação, mostramos-lhe um ensaio de 2008 :

 

 

 

 

 

   No Sábado 23 de Junho, às 20h, há no Teatro Nacional de São Carlos, uma representação única com fins de beneficência da zarzuela em três actos “Los Gavilanes” (Os Gaviões) de Jacinto Guerrero com libreto de José Ramos Martín, numa versão semi-encenada por Pedro Martínez.

   Com o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa sob a direcção musical de Miquel Ortega, os cantores intervenientes são Elisabete Matos como  Adriana, César San Martín como Juan, Ximena Agurto como Rosaura e Alejandro Roy como Gustavo.

   Sobre o tema da zarzuela diz o programa : “ Os Gaviões é uma zarzuela profundamente emocionante e profundamente universal … Juan, o «indiano», saiu de casa uma vez e voltou para descobrir que é um estrangeiro na sua própria terra reconhecendo que, apesar de tudo permanecer igual, produziram-se tais modificações no seu íntimo que fazem que tudo pareça diferente …  Desta forma, através da música e do libreto, assistiremos ao drama que sofre um homem que perdeu as suas raízes, o seu destino, os anos mais importantes da sua vida, as recordações que conservava do que mais lhe importava, através da deformação que a passagem do tempo causou na origem dos mesmos, e que, de modo quase mefistofélico, faz um pacto com o dinheiro para recuperar o que de forma natural já não lhe corresponde”.

 

 

   No programa das “Festas de Lisboa’12” já divulgado no Pentacórdio anterior, o dia de Sábado 23 de Junho é importante por nele se realizarem, além dos eventos diários de Teatro Rápido, de Arraiais e sessões de Fados e Guitarras em vários pontos da cidade (ver Programa) e além ainda do Dia da Marinha no Tejo (onde as embarcações, que noutro tempo navegaram pelo Tejo − canoas, faluas, catraios, varinos − regressam ao rio para a Libertação da Via da Água), dois outros espectáculos públicos de acesso livre e atractivo.  

   Um, o “Com´Paço V Festival de Bandas de Lisboa”, trará cerca de quatrocentos músicos envolvidos e componentes de bandas filarmónicas diversas a actuar no Rossio, no Jardim de S. Pedro de Alcântara e no Jardim da Estrela, num leque de concertos que encerrará com a sua actuação em conjunto, e em simultâneo, no Rossio constituindo como que a Banda de Jovens Músicos Com’Paço

 

 

   O outro é um pré-concerto de encerramento (antecedendo o que Milton do Nascimento dará com Carminho e António Zambujo na Alameda D.Afonso Henriques no dia 30) mas com um significado particular : a última das “Noites de Fado no Castelo” levará à Praça de Armas do Castelo de S. Jorge, numa homenagem a Bernardo Sassetti recém-desaparecido, os músicos Mário Laginha e Camané (com um programa não conhecido até agora).

   Fica aqui (também como homenagem nossa) o longo diálogo “ao vivo” entre os dois pianistas em Grândolas no “Encontro 1001 Culturas” em Lisboa a 4 de Julho de 2008 :

 

 

 

 

   Igualmente a 23 de Junho no Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal, há o último dos concertos Nuno Vieira de Almeida & Convidados, às 18h30, sob o título “A poesia de Eugénio de Andrade na música de Fernando Lopes Graça”, com Vieira de Almeida ao piano e o tenor João Rodrigues, onde será interessante comparar os dois magníficos ciclos de canto e piano saídos das mãos destes criadores apesar de, segundo o organizador, “não ser possível executá-las na íntegra”.

 

   Na Sala dos Espelhos do Palácio Foz realizam-se, neste Sábado 23 de Junho, às 17h, como habitualmente de entrada livre e com apoio da Juventude Musical Portuguesa, um Recital de Piano inserido no Ciclo dos Jovens Virtuosos do Piano onde a pianista Cae Wei irá executar um programa de obras ainda a anunciar.

 

 

   Entretanto, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, às 21h do Sábado 23 de Junho, os Deolinda e os músicos da Orquestra Metropolitana de Lisboa (com direcção musical de Cesário Costa e arranjos/orquestrações de Daniel Schvetz) juntam-se no mesmo palco para um “concerto inédito. Através da música, revisitam-se bairros imaginários, ambientes de lugares com alma, ecos que nos são familiares, impressões e tradições, ideias, algazarras…” (diz o programa).  

 

 

   No mesmo dia, 23 de Junho (Sábado), umas horas mais tarde, às 23h, quem for à galeria Zé dos Bois poderá ouvir a  terceira e última sessão da residência artística de Rafael Toral onde, pela mão do Space Collective (formação variável que Toral dirige desde 2008) propõe um estudo aprofundado sobre a performance em instrumentos electrónicos segundo os princípios orientadores do jazz, representando o projecto Doubles um momento fulcral, propulsor da transição do trabalho com pequenas formações para as (formações) orquestrais a desenvolver num futuro próximo.

   Para esta apresentação, Toral extende a formação da sua banda aos sopros de Sei Miguel e Pedro Sousa para formar o Double Quartet.

   Era este o seu som de partida em “Sound Mind  Sound Body” em 2011 :

  

 

 

   Por fim, no Teatro da Trindade começam das 22h do Sábado 23 de Junho ao Domingo, dois Dias da Cultura em que na Sala Principal do Teatro se representa “Sala de Espera” de Mario Abel Lopes da Costa numa encenação de Hugo Sovelas, uma co-produção de Blá Blá Blá – Teatro Jovem de Campo Maior e THEATRON Associação Cultural.

 

 

 

   No Domingo 24 de Junho, ás 17h na mesma sala do Teatro da Trindade, o espectáculo musical “Cultivarte” traz um Quarteto de Clarinetes a que se segue uma representação etnográfica “Raiz”, uma concepção e direção de Carla Ribeiro numa co-criação e interpretação do Rancho Tradicional de Cinfães.

 

   Dada a escassez de grandes momentos culturais, permitimo-nos duas sugestões – exceptuando o percurso das grandes exposições que abordaremos a encerrar no próximo e úlimo post desta série −, uma o aprazível “Domingos com arte CAM” com uma visita gratuita, às 11h, sob a orientação de Lígia Afonso, à exposição no Centro de Arte Moderna (CAM) de Jorge Varanda “Pequeno-almoço sobre cartolina”, a primeira exposição retrospectiva póstuma da obra de Jorge Varanda (Luanda, 1953 – Lisboa, 2008).

   Sob a forma de diálogo participado, estas visitas procuram ser um convite a um olhar consciente, alargado e transversal sobre a produção e prática artísticas contemporâneas, dirigindo-se a todos aqueles que nutrem curiosidade e interesse por estas temáticas, independentemente do seu nível de conhecimentos sobre Arte Contemporânea.

 

 

                                   

 

 

   A outra sugestão é o elogiado regresso do realizador húngaro Béla Tarr naquele que o próprio apelida do seu “último filme, o ponto final da sua obra”, de nome “O Cavalo de Turim” (A Torinói ló), com János Derzsi, Erka Bók e Mihály Kormos.

   Sendo um filme de fim, como diz um crítico (LMO), é “um filme do fim … que descreve um esgotamento (da natureza, incluindo a humana), um encolhimento (do espaço), um apagaamento (da luz)”. “Estamos na província húngara, em época indeterminada que associamos ao final do século XIX a partir do preâmbulo narado em off que nos conta a história do silêncio de Nietzsche, chocado com os maus tratos infligidos a um cavalo numa rua de Turim”.

   Béla Tarr será “um cineasta que vive à margem do tempo cronológico … (e o filme) podemos imaginá-lo a ter sido feito … até no tempo do mudo e, pela sua expressividade, com um rigor maníaco que parece bater sempre assombrosamente certo, poucas vezes se sentiu a ‘’estética geral do mudo’’ a palpitar com esta potência” (conclui o crítico, que citamos por não termos visto ainda o filme). E remata “Magnífico e aparentemente inesgotável” !.

   Deixamo-vos com as cenas iniciais de O Cavalo de Turim :

 

 

 

 

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