Tudo terá começado com o Plano Marshall. O Pai Natal da Coca Cola já andava por aí. Vieram depois os Corn Flakes, os reality shows e os discípulos de Milton Friedman com a sua terapia do choque… A Europa, a velha Europa, arrabalde do território onde pulsa o coração do Império, dele separada por um oceano, continua a imaginar-se o centro do mundo. E no seu interior, outros supostos centros, vibram e exibem a sua supremacia imaginária. A velha Europa morreu, foi devorada pelos monstros que criou. Particularmente por um.
A Inglaterra, a mais fiel seguidora dos Estados Unidos, a mãe do Império, sente-se como a impante mãe de Cristiano Ronaldo e, por assim dizer, comporta-se como embaixadora de Deus entre os pobrezinhos. A França, que continua a ser uma lenda (mas apenas na imaginação do franceses), estremece, agitada por um escandalozinho doméstico. A Grécia, graças a um golo de Karagounis, sorri e esquece por momentos o drama que se joga nas urnas – Syiriza ou Nova Democracia? A Rússia, o império que os ianques destruiram, fazendo implodir o Estado Soviético e transformando o imenso território numa gigantesca Máfia, foi surpreendida pela Grécia… Portugal é apenas mais uma das soberanias imaginárias. Isto está muito mal, mas um golo, seja do Postiga ou do Cristiano (do Varela, também serve), poderá melhorar as coisas…
Não gostam desta síntese? – Por acaso, nós também não – Take two:
Dia de todas as soluções – eleições na Grécia e em França, apuramento para a fase seguinte no Euro 2012 . Na Grécia as sondagens não são conclusivas, não se antevê uma vitória clara, seja da Coligação de Esquerda Radical, a Syiriza, seja do partido de centro-direita, a Nova Democracia. Em França, as sondagens sorriem ao Partido Socialista de François Hollande, esperando-se que obtenha uma maioria folgada na Assembleia Nacional. Mas, bruscamente na terça-feira passada, uma senhora chamada Valérie Trierweiler, jornalista do Paris Match, alvoroçou a cena política francesa com um textozinho de 135 caracteres de carinhoso apoio a um candidato dissidente do PS francês, um adversário de Ségolène Royal, a ex-esposa do presidente, mãe dos seus quatro filhos e candidata oficial do partido. Nada de anormal se Valérie Trierweiler não fosse a primeira-dama, a actual esposa de François Hollande. Como é possível? Como pode um despeito passional pôr em risco uma estratégia política do principal partido de França?
Bem, esta abordagem sisuda, também não nos agrada. Conclusão (em estilo pirotécnico):
A Grécia, berço da Democracia, acorda hoje sorrindo, graças a Karagounis e sem saber por quem vai ser governada, A França, com uma história onde, salvo no período napoleónico, abundam as derrotas e que é sobretudo um produto da sua esplendorosa cultura, está pendente da luta entre Valérie e Ségolène – mas um golo de Franck Ribéry à Suécia na próxima segunda-feira pode melhorar as coisas .À Rússia não houve Máfia que valesse e Portugal, com um Cavaco a produzir banalidades mais depressa do que a nossa selecção marca golos, o horizonte apresenta-se cinzento. A manifestação de ontem da CGTP, onde se quer ver um sinal de que o gigante adormecido está a despertar, teve o seu quê de rotineira e o discurso de Arménio Carlos não foi além do que se esperava. E não se esperava muito.
E há ainda as eleições no Egipto. Mas isso já é noutro continente.