Um Café na Internet
O meu avô ferroviário justificava assim o próprio nome:
– Sou da estirpe dos navegantes, por isso é que me deram o nome de Bartolomeu para aproveitar o apelido da família, que é Dias. Mas quando nasci, caravelas e naus já não havia. E eu que tanto gostaria de ter andado na descoberta do mundo… Mas o bichinho da viagem continuava a navegar no meu sangue, sempre a roer-me cá por dentro. Foi por isso que eu decidir apanhar os comboios em andamento, fui para a CP. Pouca terra, muita terra? Nada disso, minha gente. Muita terra, muita terra! Isso sim. Nem que fosse a cabra da Virgem a mandar ou a pedir, esta vida eu não largava. Nunca!
A minha avó caía de joelhos a rogar à Mãe de Deus que perdoasse a blasfémia do marido. O meu avô mandava que se calasse e ela calava-se, que uma mulher tinha sempre que obedecer ao marido…
Ninguém conseguia travar o ímpeto do meu avô. Era um republicano dos quatro costados, pertencera talvez à Carbonária.
Não podia ver padre que não cuspisse para o chão. Mas quando quis casar teve que ir à confissão porque, naquele tempo, os casamentos eram sempre na igreja. As famílias dos noivos a temer que houvesse bronca… Felizmente o padre era surdo que nem uma porta e o meu avô recitou-lhe todas as estações de Lisboa ao Porto, incluindo apeadeiros. Para tantos pecados, o padre ordenou-lhe penitência de 10 padre-nossos e 20 ave-marias. No dia seguinte celebrou o casamento. Só por isso posso eu contar a história..,
O meu avô tinha muitas algibeiras. Ele a chegar a casa e eu a farejá-lo. Enxotava-me, não querem lá ver este cachorro que não me larga… Mas de uma algibeira encantada saltava sempre um chocolate.
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