“Exposição de Klimt no Museu Correr, de Veneza“
“Klimt no signo de Hoffmann e da Secessão“, no Museu Correr, de Veneza, exposição apenas concluída (24.03 – 8.07.2012) constituiu-se num dos mais frequentados eventos da primavera veneziana, confirmando-se desta maneira o grande feeling sempre existido entre a cidade e o pintor vienense. A presente exposição, resultada de uma co-produção entre a Fundação dos Museus Cívicos de Venezia e o Museu Belvedere de Viena, se inscreve igualmente nas comemorações do 150° aniversário de nascimento do pintor austríaco (1862-2012).
Gustav Klimt (Baumgartner, Viena, 1862 – Viena, 1918) representa um dos mais importantes nomes da passagem artística do fim do século XIX para aquela absolutamente revolucionária das vanguardas novecentistas. Ligado muito diretamente à estetica simbolista, Klimt conduz a sua obra predominante figurativa até as maiores expressões abstratas. Trata-se de um significativo percurso, de grande coerência e capacidade criativa.
Filho de um gravador e ourives boêmio, Ernst, Klimt começou a trabalhar seguindo a profissão paterna. Dessa escolha lhe ficou a predileção pelo uso do ouro, típico de toda a sua obra artística. A partir do ouro e das pedras preciosas, Klimt oferece à sua ampla recepção valores de grande atração visual, numa constante festa de cores e luzes que mais diretamente faz da sua figura igualmente representação do abstrato.
Depois de uma carreira formativa na Academia de Arte de Viena, o pintor e decorador se dedica fortemente a um encontro sempre mais fértil com a dimensão arquitetônica. Ainda muito jovem, em 1880, recebe o encargo de decorar um dos mais salientes palácios do arquiteto Sturany, trabalho que o ocupa por dois anos. Nessa empresa Klimt teve a colaboração de seu irmão Ernst junior e do pintor F. Matsch, mais velho do que ele e igualmente presente entre os artistas da Secessão de Viena expostos no evento veneziano.
A partir de então, o artista vienese realiza uma marcante produção decorativa, contribuindo para a definitiva fisionomia artística de muitos produtos da arquitetura austríaca do final do século XIX, entre elas o teatro de Fiume (1883), Kurhaus e teatro de Karlovy Vary, Karlsbad, de 1886 a 1888, etc., etc. Essa comparticipação com a arquitetura conduzirá Klimt a estreitar relações com o grande arquiteto austríaco Joseph Hoffman, encontro do qual resultou para os dois artistas, o pintor e o arquiteto, o amadurecimento da idéia do encontro de linguagem entre as diversas artes.
A grande identificação de ideais artísticos existentes entre Klimt e Hoffman assume uma dimensão histórica quando o pintor, depois de grandes choques de incompatibilidade com as autoridades e instituições acadêmicas, rompe com as mesmas e, em 1897, funda com outros 19 artistas a Secessão vienense de grande importância para uma posterior produção artística que, partindo da pintura, chega às artes aplicadas, ao designer.
A Secessão vienense, realizada conforme a anterior experiência dos artistas de Mônaco da Baviera, de 1892, tem o seu fundador Gustav Klimt como presidente até 1902. A ela logo se associa uficialmente Hoffman.
A exposição do Museu Correr mostrou em modo eficaz todos esses detalhes através de uma assumida estrutura metodológica de tipo histórico. Arquitetura, pintura e artes aplicadas juntas mostram então um rico momento de encontro artístico, com um percurso produtivo particularmente remarcável de pinturas, desenhos, móveis, jóias, conjuntamente com elaboradas reconstuições e documentos históricos. Daí resulta um amplo retrato da Secessão vienense, com a opera de Klimt à sua frente. Do grande pintor, ainda que não representado por muitas de suas pinturas mais famosas ligadas aos mais diversos museus internacionais, do tipo do “Friso de Beethoven” (1901-1902), e em particular as duas ”Judites”, com ênfase para a segunda delas, a Judite-Salomé, de 1909, adquirida pelo veneziano Museu de Arte Moderna de Cá’ Pesaro à Bienal de Arte, de 1910.
A edição da Bienal de 1910 afirma as grandes afinidades existentes entre Klimt e Veneza. Esta edição marca possivelmente pela primeira grande vez a importância internacional da Bienal de Veneza. Nela encontram-se artistas de importância mundial, como acontece com a pessoal de Renoir, a retrospectiva de Coubert, com a presença de Picasso. Nela Klimt tem uma sala dedicada inteiramente à sua obra.
Foi tal a impressão deixada pela exposição especial de Klimt que, até mesmo o rebeldes jovens artistas futuristas guidados por Boccioni e refugiados em Ca’ Pesaro, depois de rejeitados pela mesma Bienal, descobrem com entusiasmo vanguardista a obra de Klimt. Nesta mesma oportunidade vem então adquirida pelo Museu pesarino a precisa segunda “Judite”.
Desde a Bienal de Arte de Veneza, a refinada pintura de Klimt se torna referência para os mais revolucionários artistas do ‘900, chegando até mesmo aos primeiros deles que ousam abrir as portas para o abstracionismo. Tal influência culmina com suas ressonâncias reconhecíveis em Kandinskij.