– O sr. Manel é muito abrutalhado para o meu gosto.
– Sou homem.
– Só gosto de homens meigos.
– Também sou meigo.
– Não acredito.
– A D. Maria só me viu em pé, não sabe o resto.
– E não pretendo vê-lo noutra posição.
– Tem a certeza? Não sabe o que perde.
– Certeza, certezinha.
– D. Maria, a senhora está divorciada e eu estou viúvo. Estamos os dois sozinhos, cada qual para o seu lado. Isto assim não é viver. Talvez pudéssemos juntar os trapinhos, o dia está tão bonito…
– Vá longe o agoiro!
– Não sei por quê.
– Se não sabe, aprenda: velhos caturras como nós somos, só sabem chatear-se uns aos outros.
– É da idade. Mas o que é que a gente há-de fazer, ó D. Maria? Entre nós, só mimos e meiguice.
– Nem pensar!
– Então o que é que eu faço? Vou engatar miúdas?
– Deu no 20, Sr. Manel. Só assim fica mais novo…
– E a senhora?
– A mesma coisa, transfusão de energias.
– Então sempre é verdade.
– O quê?
– Que a senhora só gosta de garotos. Eu nem queria acreditar…
– É verdade, sim senhor! A nova geração deve alguma coisa à mais velha, não deve?
– Lá isso deve. E muito.
– Então Sr. Manel, trate de cobrar o que lhe devem…