Fiama Hasse Pais Brandão – Portugal
( 1938 – 2007 )
O CONSUMO DE CEREAL
À beira
do rio a imagem é fiel, ascende
entre as matérias
múltiplas das casas, ou entre o odor
que exalam
os seus costumes, eiras: esses círculos
onde os seres vivos, que no rio divergem reflectidos, na vila
conjugam o cereal.
É de metal o fluido da água tal
a dureza, a curta imagem de uma vila consumindo
uma colheita a tempo: o debulhar,
o grão medido, as palhas que na aragem do fim
são outras aves vindo.
(de “F de Fiama”)
Animadora do movimento “Poesia 61”, foi coorganizadora da importante “Antologia de Poesia Universitária” (1964), onde publicou o poema “Barcas novas”, o qual, juntamente com o “Poema para a padeira que estava a fazer pão enquanto se travava a batalha de Aljubarrota”, a tornaria imediatamente famosa. O seu itinerário poético, de grande densidade, evoluiu para formas de notável depuração e complexidade, desde “Em cada pedra um voo imóvel” (1957), passando por “Morfismos” (1961), “Melómana” (1978), “Área branca” (1979), “F de Fiama” (1985) ou “Cantos do canto” (1995).