Casimiro de Brito – Portugal
( 1938 – )
“AFASTO-ME DE MIM QUANDO ME APROXIMO”
Afasto-me de mim quando me aproximo
Do fio da fala; quando pesco raízes
Para os homens. Afasto-me do jovem
Pescador que fui de conchas nas areias
Do sul. O sol nascia comigo no azul
Solene; o sol e as gaivotas, o desenho
De suas patas na manhã. Ninguém de nós
Sabia nada – nem eu nem o sol nem as aves
Sabíamos nada não havia nada para saber nada
Para dizer sob o lago celeste que nos
Envolvia. Pescador de palavras ainda sou –
Ainda colecciono o rumor da cal ainda ouço
A flauta rouca o pó complacente que envolve
Dentro de mim as coisas todas.
(de “Na via do Mestre”)
Foi co-director dos “Cadernos do Meio-Dia” (1958-1960) e um dos poetas do movimento “Poesia 61”. Autor de uma extensa obra poética, estreou-se com “Poema da solidão imperfeita” (1957), a que se seguiram, entre outros volumes: “Negação da morte” (1974), “Labyrinthus” (1981), “Opus Affettuoso” (1997), “O amor, a morte e outros vícios” (1999), “Na via do Mestre” (2000), “Da frágil sabedoria” (2001). Tem vindo a publicar fragmentos avulsos do seu monumental “Livro das quedas”.