Outro Caminho – Uma outra Europa

 

Chegado a este ponto, sinto-me obrigado a exprimir uma opinião contra a qual a maioria terá objecções, mas, como a tenho por verdadeira, não a suprimirei.

Heródoto

 

A União Europeia enquanto não for constituída pela união das suas numerosas Nacionalidades transformadas em Estados Soberanos, cada qual com representação autónoma na Assembleia-Geral das Nações Unidas, nunca será um espaço político, económico, cultural, ambiental e social digno de intitular-se como seja o duma Democracia, como o duama área de Solidariedade e, jamais, como um pólo de poder estratégico unificado em oposição legítima face a quiasquer tentativas – como já há – duma hegemonização mundial oriunda donde quer que seja, por desígnio muito especial, doutro qualquer Continente.

Enquanto uns tantos estados europeus – e são muitos – não se desmembrarem em tantos quantos as suas Nacionalidades o exigirem, isto é, deixarem de ser colonizadores, qualquer imaginada convivência intra-europeia processada em fraternidade, liberdade e igualdade, logo em solidariedade, será, sempre, comandada pelos famosos equilíbrios estratégicos do poder cujos resultados nunca trouxeram benefícios para quantos, Homens e Mulheres – a maioria absoluta dos eurpeus – cidadãos desta Europa das Nacionalidades Oprimidas que, por rsta mesma razão, permaneceram afastados da intimidade democrática das decisões políticas, económicas, ambientais e culturais.

 

(…)

Os estados europeus cujo desenho territorial actual resulta das suas velhas anexações territoriais e da colonização de inúmeras Nacionalidades – as badaladas unificações ou, como dizem, as reunificações – não devem ser aceites pela comunidade democrática europeia face ao desrespeito mantido pelos direitos do homem, por desígnio, aqueles da autodeterminação política e, nestes termos, definitivamente, a dum dos valores essenciais da Democracia. Os expansionismos imperialistas não podem ganhar direitos históricos como o não ganham os absurdos direitos dinásticos.

A cada Nacionalidade terá de corresponder um Estado exactamente como é o caso feliz de Portugal que, depois de ter dado por findo o seu império e regressado aos seus limites territoriais – na Europa, um raro exemplo – só comporta uma Nacionalidade. Com efeito, é completamente absurdo que Portugal tenha de dar ouvidos, ou tenha de respeitar, os entendimentos histórico-políticos – que são falsos – daqueles estados que não seguem o nosso exemplo e, de facto, na própria Europa, prosseguem na dominação e opressão de várias Nacionalidades.

Para os Portugueses não deve conceber-se justiça mais comezinha que não seja a de exigir aos outros quanto – e muito bem –  a si foi exigido e cumprido. Esta atitude deve ser uma sua grande arma política, aliás ímpar, para utilizar constantemente no cenário internacional em que, o europeu, bem está a precisar de ouvir algumas verdades incómodas.

(…)

Quando todos os Oprimidos da Europa tiverem a oportunidade justíssima de readquirirem a sua Independência Nacional, então, repete-se estarão reunidas as condições mais favoráveis para construir-se uma União Europeia democrática, solidária e cooperante capaz de dar força à sua herança cultural, artística, científica e patrimonial, apta para um novo Renascimento e para dar ânimo à promoção da Paz no mundo.

(…)

Gritou-se  – e muito bem – contra o colonialismo português como se a Europa, ela mesmo, não fosse palco dos maiores atropelos à Liberdade de muitas Nacionalidades, velhas de séculos.

 

 

Carlos Leça da Veiga

Outro Caminho

Edição Salamandra, 2012

pp. 183-186

 

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