DA PEVIDE À PIDE – por Fernando Correia da Silva

Um Café na Internet

Rua Jardim do Tabaco, escritório do Zé Vera, o qual tem agora 50 anos. A esposa Mariana tem 45 e Júlio, o filho, tem 20. O rapaz veste camisa preta e gravata branca, à Daniel Gélin, estilo bas-fond parisiense. Zé Vera a bufar de raiva. Zé Fera, é como Júlio costuma apelidá-lo. Estará certa a alcunha, pois agora o Fera perdeu a tola, dá murros na mesa, pragueja e berra:

– Já fui, há vinte anos, incomodado pela Pevide. Tudo por causa do Sindicato dos Ferroviários. O que me valeu é que eles ainda eram muito verdes. Mas agora não quero complicações com a Pide, estás a ouvir? Essa Polícia já sabe muito, aprendeu com os alemães, já está madura. Por isso, Júlio, é como te digo: ou largas a política ou sais de casa. Estás a ouvir?

Júlio levanta-se, lento. Para desespero do pai, imita muito bem a impassibilidade britânica.

– Assim sendo, saio de casa…

E sai. Mariana corre atrás dele, Júlio, filho, ó filho… 

In QUERENÇA

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