EDITORIAL: POR QUE NÃO, REFUNDAR A DEMOCRACIA?

Sempre tivemos a ideia de que ao escolher António José Seguro em detrimento de Francisco Assis ou tinha sido uma má escolha ou (hipótese mais pessimista e provavelmente mais de acordo com a realidade) se não houve equívoco, o Partido Socialista tem uma maioria neo-liberal que vê o partido como um meio para atingir fins e não como um instrumento de defesa da justiça social. Pegamos num termo muito em voga – «refundação». Mas não no sentido em que tem sido debatido.

No Verão do ano passado, quando ainda era candidato à liderança, Assis declarou ser necessário fazer “uma certa refundação” do partido, quer em termos programáticos, quer na forma como se relaciona com a sociedade. “Eu tenho falado nisso. Nas minhas intervenções pelo país fora, tenho justamente chamado à atenção para a necessidade de fazermos uma certa refundação do PS”.  O mote fora dado, dias antes, por Mário Soares ao afirmar que o PS “tem de ser refundado de alguma maneira, tem de ser melhorado, tem de discutir política a sério e tem de ter política a sério e grandes ideias para o futuro”. Francisco Assis, defendeu a refundação do partido em termos programáticos, para “adequação a novas realidades e produção de uma doutrina que responda a novas questões”,  quer em termos de organização, quer em termos de relação com a sociedade.

Na realidade, não deve existir  no leque partidário português um partido que, como o PS, revele uma praxis tão distante do programa. Com todas as suas incongruências, o PSD, nada tendo a ver com a social-democracia que ostenta na sigla, adequa-se, mesmo quando, como agora, a contestação interna é grande aos seus propósitos fundacionais. A contestação, vinda sobretudo de «históricos», como Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes e outros, deve-se mais à ineficácia política de Passos Coelho e à incompetência global do executivo, do que à quebra de princípios.

O PS, aquele que em 1973 nasceu na Alemanha, deixou de existir. Transformou-se num dos pilares desta «democracia representativa». Que representa sobretudo os interesses da oligarquia que saqueia o  País desde há mais de três décadas. É uma estrutura bicéfala que assenta numa farsa que faz lembrar a do «pide bom» e do «pide mau». Mas, para o elevado preço dos seus honorários, os actores actuais são péssimos. Refundar o PS, não seria mau.

E que tal refundar a Democracia?

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