REFLEXÕES SOBRE A MORTE DA ZONA EURO, SOBRE OS CAMINHOS SEGUIDOS NA EUROPA A CAMINHO DOS ANOS 1930

Selecção, tradução e nota de leitura por Júlio Marques Mota

 

CONTRA O TRATADO SOBRE A ESTABILIDADE, A COORDENAÇÃO E A GOVERNAÇÃO

Jérôme Gleizes – Setembro de 2012

(CONCLUSÃO)

14 Uma política ecológica impossível

O TSCG baseia-se numa análise errada da crise. Esta seria então  de natureza financeira. Seria suficiente colocar as contas públicas em ordem através das  políticas de austeridade. Esta é a estratégia de choque clássico que foi imposta sem sucesso nos países do Sul através dos planos de ajustamento estrutural, degradando os sistemas de saúde e de educação, como no Mali e na Grécia, hoje. No entanto, a crise também não  é só de natureza económica. Pensar que bastaria uma política de recuperação da economia para sair da crise, como o propõem uma parte daqueles que se opõem a TSCG também está profundamente errado.

Uma simples política orçamental  impede apenas uma degradação da crise social. Para nós, é a crise do liberal-produtivismo3  com a base de uma crise climática, da biodiversidade,  dos recursos não-renováveis, alimentar, … de crises ecológicas. Nas eleições europeias, propusemos  um empréstimo Europeu de 1 milhão de milhões de euros para fazer os investimentos necessários para a resolução da crise ecológica o que o TSCG não propõe  nem o Pacto de crescimento.

Em conclusão, o TSCG não vai resolver coisa nenhuma excepto perder  tempo. É por isso, que pela primeira vez na  sua história, a Conferência Europeia de sindicatos se opôs a um Tratado da União Europeia. Este irá ampliar  a crise com uma inevitável implosão da zona euro. Há decisões mais importantes do que outras. Longe de facilitar uma Europa federal, o TSCG, ao reforçar os poderes da Comissão e do Intergovernamental,  irá envolver a Europa num verdadeiro  impasse. É necessário ter  a coragem de se opor a um Tratado ineficaz economicamente, perigoso socialmente  e antidemocrático.

Jérôme Gleizes,  Contre le Traité sur la Stabilité, la Coordination et la Gouvernance, disponível no site  http://reporterre.net/spip.php?article3149.

Uma nota de Attac sobre o Tratado:

“É necessário  permitir que o BCE empreste  directamente aos Estados-membros a taxas  razoáveis, ou mesmo nula; realizar uma profunda reforma fiscal restabelecendo  uma forte progressividade nos impostos; iniciar uma harmonização social e fiscal crescente ; construir um verdadeiro orçamento europeu, tributando as operações financeiras, os lucros das empresas multinacionais e as emissões de carbono”

Attac France – 7 décembre 2011

Nicolas Sarkozy e Angela Merkel acabam de anunciar  a  sua vontade de adoptar um novo Tratado Europeu no mês de Março, que imporia sanções “imediatas” e “automáticas” aos  Estados cujo défice seja superior a 3% do PIB. A regra dos 3% está  já no Tratado de Maastricht, retomado no  de Lisboa, mas o novo Tratado endurece-o consideravelmente.

Este novo Tratado explicitamente exclui novas reestruturações da dívidas pública e isto apesar de que uma renegociação da dívida não se tenha já mostrado ser bem  necessária para a Grécia: nunca haverá nenhuma questão  em   ajudar o sector financeiro e os bancos, que entretanto assumiram  riscos imprudentes para si próprios e especialmente para a sociedade.

Este Tratado levará  todos os seus signatários para uma escalada de políticas de austeridade, cada vez mais injustas e ineficazes. Injustas, porque elas  fazem pagar aos cidadãos uma dívida provocada pela crise financeira e pelso presentes fiscais aos cidadãos privilegiados . Ineficazes,  porque aprofundam  a recessão e os défices  e impedem  qualquer recuperação de investimento ecológico e social.

Um Tratado Sarkozy-Merkel, que foi decidido  dentro de poucas semanas sob pressão das agências de notação, ratificado pelos parlamentos às  ordens e sem consulta popular, seria um verdadeiro colapso democrático. Longe de permitir a refundação de uma Europa unida, ele organizaria a concorrência  pela austeridade e, finalmente, o colapso da zona euro. Exigimos um referendo em França, para que as pessoas se possam  pronunciar.

Naturalmente, o Tratado de Lisboa levou a União Europeia a um impasse e precisa de um novo Tratado. Mas não para tranquilizar os mercados mas  sim  para fazer sair a Europa das suas garras! “É necessário  permitir que o BCE empreste  directamente aos Estados-membros a taxas  razoáveis, ou mesmo nula; realizar uma profunda reforma fiscal restabelecendo  uma forte progressividade nos impostos; iniciar uma harmonização social e fiscal crescente ; construir um verdadeiro orçamento europeu, tributando as operações financeiras, os lucros das empresas multinacionais e as emissões de carbono”

Um novo Tratado Europeu não pode ser preparado entre alguns chefes de Estado, mas sim no respeito pela vontade dos povos da Europa. O que é necessário hoje, é um vasto processo democrático europeu de desenvolvimento de um novo Tratado, que reflicta não as exigências dos mercados mas sim as exigências dos povos desejosos de construir as suas solidariedades. .

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