EDITORIAL: A ECONOMIA CONTRA AS ALTERAÇÔES CLIMÁTICAS

Diário de Bordo - II

Ontem terminou mais uma Conferência Climática promovida pela ONU, que decorreu em Doha. Segundo as notícias, houve acordo para prolongar os acordos de Quioto até 2020, e, pela  primeira vez, parece aceitar-se o princípio de os países mais ricos, mais poluentes, indemnizarem os países mais pobres, mais atingidos pelas alterações climáticas. Nesta situação, por exemplo, estão as Seychelles, país do Oceano Índico, com uma economia muito centrada no turismo, cujo clima regista diminuição das chuvas e  um aumento dos períodos secos, o que, em conjunto com a ameaça resultante da subida do nível das águas do mar, põe em risco as praias ali existentes. A desaparição das praias fará com que os turistas não procurem o arquipélago, com os prejuízos inerentes.

Os pequenos estados insulares formaram uma aliança, a AOSIS (Alliance of Small Islands States), que agrupa cerca de 40 membros e observadores de todo o mundo. Contudo, têm tido muita dificuldade em fazer valer os seus pontos de vista. E a situação é muito agravada por os EUA e o Canadá terem renunciado ao protocolo de Quioto, e potências como a Rússia, a EU, o Japão, estarem renitentes em assumirem maiores reduções das emissões de carbono.

Nos EUA, que são os maiores poluidores mundiais, há cada mais gente a recusar que a acção do homem pode ter efeitos nocivos sobre o clima. E na última campanha eleitoral para as presidenciais o problema das alterações climáticas não foi abordado nem por Obama nem por Romney. Entretanto, apesar dos graves problemas causados pelos furacões (veja-se o caso recente do furacão Sandy) e outros desastres naturais, a administração Obama não parece disposta a mudar de rumo, apesar de algumas declarações esporádicas do presidente reeleito. Entretanto, o recém declarado objectivo de tornar os EUA autónomos em energia parece ter aqui a sua influência. Para alcançar esse objectivo, pelo menos em parte, os EUA propõem-se recorrer em grande escala aos xistos betuminosos, muito abundantes no seu território. A extracção de óleo desses xistos pode ser extremamente poluente, e agravar as emissões de carbono. Daí o desinteresse pelos acordos de Quioto. E o Canadá segue a mesma via.

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