POEMA DE NATAL – Um soneto de Pedro Tamen

Não digo do Natal – digo da nata

do tempo que se coalha com o frio

e nos fica branquíssima e exacta

nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade

esses tempos relíquidos e pardos

e faz assim que o coração se agrade

de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então

é que descobre dias de brancura

esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura

moídas numa só, e feitas pão

com que a vida resiste, e anda, e dura.

 in OS QUARENTA E DOIS SONETOS, Livros Horizonte, Lisboa, 1973 (esg.)

Leave a Reply