PUMPUMPUM – por Fernando Correia da Silva

Um Café na Internet

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Enfermaria de hospital. Pelas janelas entra o sol da tarde… Zé Vera numa das camas. Tem agora 85 anos. A seu lado, sentado numa cadeira, está o seu filho Júlio, que já tem 55. Uma enfermeira, mulher bonita, circula por entre as camas. Diz Zé Vera para Júlio:

– A noite passada, o vizinho aqui do lado bateu as botas. Anteontem, o que estava naquela cama decidiu emigrar para o Jardim das Tabuletas. Eu cá me vou aguentando, por enquanto.

– O Doutor disse-me que lhe vai dar alta.

– Claro, eles precisam de camas, o corredor está apinhado…

A enfermeira vai a sair. Um doente, velhote, de pijama e a arrastar os chinelos, com um caderno numa das mãos e uma caneta noutra, aproxima-se dos Veras.

– Ó Vera, você já viu como essa gaja é boa?

– Ó meu caro, tarde piaste… Essas coisas já não me interessam, mi caballo murió

Júlio ri. O velhote insiste:

– Ó Vera, você ainda se lembra da quadra?

– Talvez, deixe cá pensar…

Júlio quer saber do que estão os dois a falar e o velhote explica:

– Foi uma quadra que o seu pai fez ao vizinho dessa cama aí ao lado, que passava a noite a peidar. Atenção, lá vem mais um, pumpumpum perrumpumpum, não sei que mais. Foi cá uma galhofa, que nem lhe digo… Até apareceu o chefe da enfermaria por causa do chinfrim. De tanto rir, o peidorreiro sufocou, foi parar aos Cuidados Intensivos. Coitado, acabou por morrer.

Remata o Zé Vera:

– Morte linda. Entrou a rir e aos foguetes, no Purgatório…

Gargalhadas. Dos três. Até às lágrimas. 

In QUERENÇA

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