EDITORIAL – O Teatro Nacional de São Bento

Imagem2O debate quinzenal no Parlamento traz-nos novidades e surpresas se, não sendo exigentes,  por tal entendermos uma ou outra explosão de indignação (contida) de um de deputado de Esquerda, uma qualquer intervenção mais caricata de um ou outro ministro, uma gafe de qualquer deputado… Na melhor das hipóteses um grito de revolta vindo das galerias. A troca de ironias, de acusações, numa agressividade de mau teatro de amadores, é uma outra das atracções desta reposição quinzenal que faz lembrar a commedia dell’arte – em que o entrecho é sempre o mesmo, ficando a escolha das palavras ao critério dos actores. Embora a arquitectura do espaço parlamentar permita analogias com a do Coliseu dos Recreios, o respeito devido ao espectáculo circense evita-nos as comparações mais acessíveis.

 António José Seguro acompanha as palavras de um gesticular mecânico e de um sorriso de quem não acredita no que está a dizer. Passos Coelho, usa uma ironia mecânica e contesta com o ar de quem acha graça ao que está a dizer. Enfim – dois actores sem qualquer espécie de talento, representando sempre a primeira cena de um primeiro acto de uma peça de Ionesco. Só que o mestre do Teatro do Absurdo, após um diálogo disparatado, enquadrava de forma magistral as palavras incoerentes num todo que fazia sentido.

Na sessão de anteontem, após as acusações de Seguro que, como disse António Costa, ao querer demarcar-se de Sócrates, ficou sem margem de manobra (pois a tentativa de demarcação tem de preservar od interesses dos «donos de Portugal»), veio Passos Coelho garantir que só se a actual coligação não quiser, a legislatura não será cumprida. Ou seja, Passos Coelho demonstra o seu desprezo pelas vozes que contra o seu executivo se levantam. E não se esquece de aludir às dissensões no interior do Partido Socialista, onde Seguro começa a ser contestado a partir de vários quadrantes e de diversas «sensibilidades». E o primeiro-ministro ignora também as recentes palavras de Cavaco Silva. Que, diga-se de passagem, representa o seu papel de uma forma não menos deplorável. Passos Coelho sabe que enquanto os empresários do teatro o não despedirem, a opinião dos outros cómicos é irrelevante.

E o público?

O público, paga o espectáculo. Sustenta uma produção caríssima e quase tem de deixar de comer para que a companhia continue com a peça em cartaz. Mas a sua opinião não conta – é uma gente que nada percebe de teatro.

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