POESIA AO AMANHECER – 137 – por Manuel Simões

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GARCIA DE RESENDE

Trovas que Garcia de Resende fez à morte de dona Inês de Castro, que el-rei dom Afonso o quarto de Portugal matou em Coimbra por o príncipe dom Pedro, seu filho, a ter como mulher e, pelo bem que lhe queria, não queria casar (excerto).

Endereçadas às damas.

Senhoras, se algum senhor

vos quiser bem ou servir,

quem tomar tal servidor

eu lhe quero descobrir

o galardão do amor.

Por sua mercê saber

o que deve de fazer

vejo que fez esta dama

que de si vos dará fama

se estas trovas quereis ler.

“Fala dona Inês”:

Qual será o coração

tão cru e sem piadade

que lhe não cause paixão

hua tão gram crueldade

e morte tão sem razão.

Triste de mim inocente

que por ter muito fervente

lealdade, fé, amor

ao príncipe, meu senhor,

me mataram cruamente.

(…)

“Fim”

Dois cavaleiros irosos

que tais palavras lh’ouviram,

mui crus e não piadosos,

perversos, desamorosos,

contra mim rijo se viram.

Com as espadas na mão

m’atravessam o coração,

a confissão me tolheram:

este é o galardão

que meus amores me deram.

Garcia de Resende é, como se sabe, o compilador do “Cancioneiro Geral” publicado em 1516. As conhecidas trovas à morte de Inês de Castro (c. 1325-1355) compõem-se de vinte e oito estrofes de dez versos. No séc. XV a trova era uma forma poética fixa, apresentando uma estrutura livre, de extensão variável.

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