GARCIA DE RESENDE
Trovas que Garcia de Resende fez à morte de dona Inês de Castro, que el-rei dom Afonso o quarto de Portugal matou em Coimbra por o príncipe dom Pedro, seu filho, a ter como mulher e, pelo bem que lhe queria, não queria casar (excerto).
Endereçadas às damas.
Senhoras, se algum senhor
vos quiser bem ou servir,
quem tomar tal servidor
eu lhe quero descobrir
o galardão do amor.
Por sua mercê saber
o que deve de fazer
vejo que fez esta dama
que de si vos dará fama
se estas trovas quereis ler.
“Fala dona Inês”:
Qual será o coração
tão cru e sem piadade
que lhe não cause paixão
hua tão gram crueldade
e morte tão sem razão.
Triste de mim inocente
que por ter muito fervente
lealdade, fé, amor
ao príncipe, meu senhor,
me mataram cruamente.
(…)
“Fim”
Dois cavaleiros irosos
que tais palavras lh’ouviram,
mui crus e não piadosos,
perversos, desamorosos,
contra mim rijo se viram.
Com as espadas na mão
m’atravessam o coração,
a confissão me tolheram:
este é o galardão
que meus amores me deram.
Garcia de Resende é, como se sabe, o compilador do “Cancioneiro Geral” publicado em 1516. As conhecidas trovas à morte de Inês de Castro (c. 1325-1355) compõem-se de vinte e oito estrofes de dez versos. No séc. XV a trova era uma forma poética fixa, apresentando uma estrutura livre, de extensão variável.